O edifício deixa de ser visto como elemento autônomo e isolado do espaço urbano e dá protagonismo à coletividade / Por Heloísa Maringoni

Nova geração dos edifícios multifuncionais

Engenheira de estruturas Heloísa Maringoni

Como um grande rio responsável pelo fluxo entre a Av. Paulista e o rio Pinheiros, a Avenida Rebouças hoje é um dos eixos de estruturação da transformação urbana da Grande São Paulo e recebe um movimento de transformação recente e rápido: a nova geração dos edifícios multifuncionais da cidade.

A mudança da lei de zoneamento e a inauguração da Linha 4 (Amarela) do metrô paulista refletiu, até o momento, na instauração de pelo menos 11 edifícios multiusos, que usam o conceito de fachada ativa – implementando ambientes livres de uso público, áreas comerciais e espaços de transição entre o edifício e a cidade, como lojas e cinemas – associada às torres ocupadas por escritórios, residências e hotéis.

A integração do edifício multifuncional nos centros de mobilidade urbana e a heterogeneidade das regiões que antes eram facilmente distintas entre moradia e comercial levantam questões que não existiam.

O edifício deixa de ser visto como elemento autônomo e isolado do espaço urbano e dá protagonismo à coletividade. Por outro lado, a tendência também gera adensamentos sem a liberação de espaços que pensem o contexto de bem-estar social, com áreas abertas, inclusivas, sustentáveis e acessíveis.

Questões estas que se tornam cada vez mais latentes dado ao contexto pandêmico e às projeções do futuro da vida nas cidades.

Importante destacar que essa mudança não é exclusiva da Avenida Rebouças, ocorre nos corredores de uso especial da cidade: Zonas de Eixo de Estruturação e Transformação Urbana (ZEU). E ocorre rápido. Tão rápido quanto assim permitem as tecnologias de construção

Tecnicamente, a resposta a esta demanda pode ser dada pela construção industrializada, com destaque para as estruturas mistas em aço e concreto, com possibilidade de plantas livres, obtendo a estabilidade das torres, além dos núcleos de circulação vertical, pelos contraventamentos de fachada e consequente redução de pilares necessários ao aporticamento.

Além disso, pela produção da estrutura metálica ser feita dentro das fábricas, há uma redução da necessidade de mobilização de canteiros de obra, da dimensão dos elementos estruturais e do desperdício de materiais e entulhos.

Também se destacam a possibilidade do uso de painéis de vedação e o incentivo à produção industrial, para a qual é atribuída grande importância econômica, um gatilho para o desenvolvimento.

Dessa forma, esta tendência também deve ser pensada no impacto social. A modernização urbana e a heterogeneidade das regiões atuam não apenas para diminuir desigualdades, mas para mitigá-las.

A condição de desigualdade vem sendo agravada pela pandemia, assim como vem sendo enorme a necessidade de inovações e adaptações na forma como vivemos.

O trabalho remoto, a atividade física nas varandas, a escola próxima, os pequenos deslocamentos para abastecimento, a coabitação, o questionamento quanto à necessidade de estacionamentos e torres de escritórios.

Nosso futuro é incerto. Uma certeza, no entanto, é nossa necessidade de convívio: somos seres sociais e a isso estão atreladas nossa troca de experiências, criatividade e afetos.

Engenheira Heloísa Maringoni é titular na Cia de Projetos e colaboradora do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA)

Contatos:
Cia de Projetos
(11) 3063-3232
http://www.companhiadeprojetos.eng.br/

Centro Brasileiro da Construção em Aço
(21) 3445-6332
https://www.cbca-acobrasil.org.br

____________________________