Até 24 de setembro de 2023, rica cultura e os saberes cosmológicos da comunidade yanomami na exposição “Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós” no MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Individual do yanomami Sheroanawe Hakihiiwe no MASP

Sheroanawe Hakihiiwe, Pisha hena [Folha], 2021 / Foto: Cortesia Galería ABRA/María Teresa Hamon

Localizada na galeria do 1º subsolo do museu, a exposição apresentará 48 trabalhos, entre desenhos, monotipias e pinturas, que traduzem as tradições ancestrais, a memória oral e os saberes cosmológicos da comunidade yanomami do artista, situada no município de Alto Orinoco, na Amazônia venezuelana.

Técnica para Produção de Papel

A trajetória do artista visual yanomami Sheroanawe Hakihiiwe começou nos anos 1990, após seu encontro com a artista mexicana Laura Anderson Barbata. Juntos, eles desenvolveram uma técnica única de produção de papel utilizando fibras vegetais nativas como suporte para seus desenhos.

Desde então, Hakihiiwe tem criado desenhos minimalistas e delicados, com padrões e símbolos coloridos e texturizados, explorando a profunda conexão de sua comunidade com a paisagem. Sua obra representa uma revisão contemporânea da cosmogonia e do imaginário yanomami.

Suportes com Cores e Texturas Distintas

A mostra “Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós” revela uma pequena parte desse universo, apresentando desenhos, pinturas e monotipias produzidos em papéis artesanais elaborados com fibras nativas como cana, algodão, amoreira, banana e milho. Esses suportes possuem cores e texturas distintas, diferenciando-se dos papéis industrializados, sendo necessário lidar com o desafio do tempo em relação à sua conservação.

A produção simbólica de Hakihiiwe reflete diretamente o significado de seu trabalho. O curador André Mesquita destaca que “o artista trabalha continuamente, criando pinturas, monotipias e desenhos únicos, além de séries sobre um mesmo tema e motivos visuais recorrentes.”

Um ato de Memória e Percepções

“Ele também se preocupa com a preservação: seu trabalho é um ato de memória que redefine relações, leituras, relatos e visões acerca das percepções e representações, arquivo, registro, observação, sonho, tecnologia, natureza, cotidiano e história. Para evitar que todo esse conhecimento se perca, para impedir que se torne invisível, ele busca preservá-los em seu trabalho, defendendo e perpetuando uma memória coletiva reconstruída e materializada em suas obras”.

Hakihiiwe propõe um diálogo entre práticas, espécies, saberes e vidas, traduzindo imagens e materiais com valores culturais comunitários. Em seus desenhos e pinturas, o artista utiliza tintas vegetais fabricadas artesanalmente a partir de folhas, frutas, animais e madeiras.

Jena riye riye

Na obra “Jena riye riye” (2021), uma monotipia, Hakihiiwe retrata 24 folhas verdes em uma disposição que lembra um tratado de botânica, com atenção especial às nervuras. O assistente curatorial David Ribeiro reflete sobre esse trabalho, afirmando que “ele demonstra o olhar minucioso que o artista lança sobre os elementos da natureza, mesmo quando retratados em suas expressões mais sutis, como uma única folha”.

Preservação e direitos

Os direitos do povo yanomami, que habita o território venezuelano, foram reconhecidos pela legislação local em 1999, assim como é garantido pela Constituição brasileira o direito à diferença, incluindo sua organização social, política e econômica, bem como suas culturas, espiritualidades, línguas e territórios.

No entanto, Hakihiiwe ressalta que esse reconhecimento não impede a existência de ameaças reais e cotidianas enfrentadas pelos Yanomami. Ele expressa tristeza ao ver o rio Orinoco poluído, impedindo que as crianças possam brincar e se banhar em suas águas.

Histórias de Luta e Sobrevivência

O artista também relata a destruição causada por não indígenas, que resultou na morte e no desaparecimento de duas comunidades inteiras, deixando claro que as condições atuais não são favoráveis para seu povo.

Realizar a exposição de Hakihiiwe no ano das Histórias Indígenas, no MASP, é uma oportunidade significativa para apresentar ao público histórias de luta, sobrevivência e resistência, bem como celebrar a beleza, diversidade e criatividade dos povos indígenas.

É um momento de reflexão sobre a responsabilidade, proteção, cuidados coletivos, pensamento crítico e preservação desses povos originários, seus conhecimentos ancestrais e a pluralidade de suas culturas e territórios, destaca Mesquita.

Artistas indígenas no MASP

A exposição “Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós” faz parte da programação anual do MASP dedicada às Histórias Indígenas. Além dessa mostra, o museu apresentará exposições individuais de outros artistas indígenas, como Carmézia Emiliano, MAHKU, Paul Gauguin e Melissa Cody. Também fazem parte da programação o comodato MASP Landmann, com cerâmicas e metais pré-colombianos, e a grande exposição coletiva “Histórias indígenas”.

Uma oportunidade para conhecer e apreciar a arte e a cultura yanomami através das obras de Sheroanawe Hakihiiwe. A mostra é uma celebração da riqueza e da importância dos povos indígenas, assim como um convite a refletir sobre a preservação de suas tradições e conhecimentos milenares.

Catálogo

Acompanhando a exposição, será publicado um catálogo em volume bilíngue (português/inglês) com a reprodução de obras do artista yanomami. O livro, organizado por Adriano Pedrosa, André Mesquita e David Ribeiro, inclui textos de André Mesquita, Catalina Lozano, David Ribeiro, Noraeden Mora Mendez e Trudruá Dorrico. Com design de Alles Blau, a publicação tem edição em capa dura.

Serviço:
Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP, e David Ribeiro, assistente curatorial, MASP
1o subsolo (galeria)
Até 24/09/2023
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça grátis Bradesco, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório em https://masp.org.br/visite#visit-tickets
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)

Contato:
Museu de Arte de São Paulo / MASP
(11) 3149-5959
https://www.masp.org.br

 

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