Com curadoria de Ivo Mesquita, a Galeria Teo realiza a exposição Caíto: Esculturas / Marcos Concílio: Guaches e Tapeçarias, de 15 de fevereiro a 20 de março de 2023

Caíto e Marcos Concílio na Galeria Teo

Caíto: Escultura em bronze com pátina branca 79 X 35 X 40cm / Marcos Concílio: Guache sobre papel Fabriano, 1982_102 X 25,5 X 5cm

Para valorizar as manifestações artísticas e o patrimônio cultural brasileiro, a mostra reúne preciosa seleção com 29 esculturas assinadas por Luiz Carlos Martino da Silva, Caíto, 13 guaches e tapeçaria do artista Marcos Concílio.

Em reconhecimento à riqueza produzida por Caíto, a mostra presta homenagem ao artista falecido em 2020. Caíto está representado por suas esculturas produzidas em diferentes momentos de vida e influências culturais.

Da construção geométrica à sensualidade orgânica, a exposição revela a versatilidade e a consistência do artista, por meio de obras realizadas com diferentes técnicas, suportes e materiais, inclusive reciclados.

Do pintor e colecionador Marcos Concílio, a série de guaches incorpora a estética das múltiplas coleções que o artista reuniu ao longo de décadas. A estética vibrante e colorida remete às artes indigenistas, afro-brasileiras e da cultura pop dos anos 60.

Curador da exposição, Ivo Mesquita é historiador da arte e escritor independente. Com uma trajetória expressiva no universo cultural, desenvolveu projetos para importantes instituições artísticas, educativas e sociais, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, a Fundação Bienal de São Paulo, o MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo-MASP, além de colaborar profissionalmente para galerias de arte contemporânea em São Paulo e em outros estados.

Reconhecido internacionalmente, contribuiu para renomadas fundações e instituições culturais nos Estados Unidos, Espanha, México, Canadá, Itália, Senegal e África do Sul.

Exposição Caíto: Esculturas / Marcos Concílio: Guaches e Tapeçarias / Por Ivo Mesquita

Caíto: esculturas – O artista Caíto, ou Luiz Carlos Martinho da Silva (São Paulo, 1952-2020), formado arquiteto, dedicou-se, no entanto, desde o princípio de sua carreira, à produção de esculturas com algumas incursões no design.

O conjunto de sua obra revela um artista consistente e original, entre os poucos e melhores escultores surgidos com a chamada geração ’80.

Seus trabalhos transitam, por um lado, na tradição da escultura abstrata moderna representada, entre outros, por Brancusi, Henri Moore e Maria Martins: o gosto pela forma e pela modelagem dos materiais, a interação com o espaço e o jogo dialético entre, dentro e fora, aberto e fechado, cheio e vazio.

Por outro, meio a contrapelo do anterior como algo mais irônico e provocativo, o trabalho incorpora um imaginário tomado da cultura pop e punk contemporânea, com a estratégia de colagens, seja pelo uso de materiais como tecidos, peles sintéticas, plástico, borracha, caixas de papel, pregos ou metais reciclados, seja pelas alusões figurativas à mão e às orelhas de Mickey Mouse, seja a fragmentos de corpos ou frutas, ou ainda às tantas engenhocas do mundo doméstico.

Sua marca reside na exploração da sensualidade das formas fluidas, orgânicas, trazidas pelas mãos do artista e instaurando um intenso erotismo.

O conjunto reunido nesta exposição traz três momentos diversos da produção do Caíto. Dois envolvem a estratégia de apropriação e reciclagem tão ao gosto dos artistas dos anos 1980: um trata-se de uma construção geométrica de um volume de vazios delimitados por caixas de remédios com rótulos recortados, apenas os esqueletos delas, justapostos e acumulados, num delicado efeito ótico, enquanto ironizando toda uma racionalidade e rigor da geometria na arte, assim como a cultura dos opioides e drogas sintéticas.

Outros recorrem a materiais já usados, ou não, como latas, folhas de metal e rebites, que resultam num grupo de peças mais ríspidas, encrespadas, mesmo assim provocativas em suas evocações de vegetais e estranhas formas orgânicas.

São trabalhos exemplares, assim como outros não apresentados desta feita, do interesse do artista por experimentar com diferentes suportes, incluindo, por exemplo, objetos fabricados como brinquedos e adereços industrializados diversos.

No terceiro grupo, estão algumas peças moldadas em bronze patinado, onde predominam as formas orgânicas e a especulação escultórica da sensualidade delas.

Nos pequenos formatos elas sugerem partes de corpos – ossos, vértebras, vísceras –, espécies de vestígios, pequenos objetos ou fragmentos deles saídos de sítios arqueológicos.

Oferecem ao observador a possibilidade de ver os movimentos deixados na superfície de metal pelos dedos, as ranhuras pelas facas e espátulas.

Ou então são formas que se expandem, agigantam, ganham uma dinâmica própria, se recortam em curvas, se abrem em espaços, se alongam como línguas ou unhas, que se movimentam entre fantástico e erótico, propondo um embate com o corpo do espectador.

Elas deslocam o olhar para o interior da forma, trazem o desassossego do indeterminado, buscam uma existência sem finalidade clara, porém pesada e transbordante no espaço. Surpreendem pelo seu caráter enigmático, estimulam a sagacidade do observador pressionado a desvendar as histórias do artista.

Marcos Concílio: guaches – Marcos Concílio (São Paulo, 1945) é um artista de muitas artes. Pintor e desenhista, já fez projetos gráficos, joias, tapeçarias e pequenas esculturas, colaborou com artistas como Norberto Nicola, Jaques Douchez e outros, mas também se dedicou a colecionar uma imensa variedade de objetos que vão da arte popular de um mestre Vitalino, cerâmicas indígenas e pré-colombianas, até os mais sofisticados exemplos de vidros de Murano por mestres desta arte como Venini e Seguso, passando por moveis e artefatos art-deco e modernistas, assim como bonecas e objetos tradicionais japoneses e muito mais.

O que lhe interessa é o desenho das peças, a originalidade de suas belezas. Para além do caráter decorativo, o sentido delas está no que representam na construção da visualidade e da história do gosto.

Sua coleção reúne, de uma maneira totalmente singular, objetos e fragmentos da cultura material que registram os estilos e produções artísticas que puseram em movimento os últimos 70 anos do colecionismo no Brasil.

A série de guaches dos anos 1980 nesta exposição remetem a objetos presentes na coleção do artista. No caso, à exuberante arte plumária brasileira: adereços, cocares e particularmente as vistosas e elaboradas máscaras cara-grande dos índios Tapirapés.

As pinturas apropriam-se das estruturas e cores do modelo de modo a sintetizá-lo em sua geometria, seguido de uma aplicação precisa de faixas e zonas orgânicas de cores.

O resultado é uma imagem gráfica vibrante, perfeitamente trabalhada para apagar qualquer marca deixada pela mão do artista, bem ao contrário das máscaras originais. Em algumas pinturas desta série aparecem elementos de extração do imaginário afro-brasileiro e da cerâmica popular numa espécie de sincretismo de referências.

Com este extenso corpo de trabalhos Concílio põe em movimento, simultaneamente, memórias dos primeiros modernistas que trataram de temas indigenistas como Rego Monteiro e Graz-Gomide, da relação da arte abstrata com a arquitetura e o design, e da estridência da gráfica pop, numa imagem sempre atualizada, uma matriz de motivos com muitas possibilidades de combinações e multiplicação.

Serviço:
Exposição Caíto: Esculturas / Marcos Concílio: Guaches e Tapeçarias
Curadoria: Ivo Mesquita
De 15 de fevereiro a 20 de março de 2023
Segunda à sexta das 09h às 18h – sábado das 10h às 14h
Entrada gratuita
Galeria Teo
Rua João Moura, 1298, São Paulo SP 05412-003 Brasil
(11) 3063-1939
https://casateo.com.br