Exposição no IMS Paulista investiga as relações entre fotografia e cultura urbana nas primeiras décadas do século XX

Fotografia e cidade 1890-1930 no IMS SP

Demolições entre as ruas do Rosário e Ouvidor, avenida Central, atual avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, 1904 / Crédito: João Martins Torres / Acervo Instituto Moreira Salles.

Com inauguração em 13 de setembro, a mostra apresenta fotos e filmes pouco conhecidos, datados entre 1890 e 1930. A seleção aborda as contradições em torno dos projetos modernos de urbanização no país.

Com entrada gratuita, a mostra apresenta a produção fotográfica realizada em algumas das principais capitais do país — Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Belém — durante a Primeira República, de 1889 a 1930.

A exposição documenta reformas urbanas radicais que aconteceram no período, abordando as tensões e contradições desses processos, que alteraram as paisagens e as formas de habitar e circular nas cidades.

Com curadoria de Heloísa Espada e assistência de Beatriz Matuck, a mostra também trata da expansão da fotografia e do cinema nesse momento, como parte da cultura urbana de massas, em grandes espetáculos para entreter a população.

Fruto de dois anos de pesquisa, a seleção reúne 311 itens, entre filmes silenciosos, revistas e, principalmente, fotografias apresentadas em diversos formatos, como cartões-postais, álbuns, estereoscopias e projeções em lanterna mágica.

Os materiais exibidos provêm do acervo do IMS e de outras 28 coleções, entre privadas e institucionais, como Fundação Joaquim Nabuco, Fundação Biblioteca Nacional, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo.

O conjunto inclui desde imagens produzidas por fotógrafos já reconhecidos pela história, como Vincenzo Pastore, Alberto de Sampaio e Augusto Malta, até nomes menos conhecidos, como Francisco Rebello, que registrou a vida nas ruas e o Carnaval do Recife nos anos 1920; Olindo Belém, autor de uma vista panorâmica de 527 cm de largura de Belo Horizonte, realizada em 1908; e o botânico Jacques Huber, que fotografou a flora amazônica e a procissão do Círio de Nazaré, em Belém, nos anos 1900.

A seleção também apresenta produções cinematográficas, como os filmes silenciosos Lábios sem beijos (1929) e Limite (1931), que trazem closes e enquadramentos distorcidos, típicos das vanguardas europeias, realizados por Edgar Brasil, diretor de fotografia de ambos.

A mostra busca tecer um contraponto às imagens oficiais das reformas urbanas, associadas à belle époque e à modernização da República, evidenciando os projetos políticos que estavam em disputa e os apagamentos decorrentes desses processos.

Segundo a curadora, “reformas urbanas como o ‘bota-abaixo’, que, entre 1903 e 1908, expulsou a população de baixa renda e arrasou o patrimônio colonial do centro do Rio de Janeiro, e a inauguração da Cidade de Minas (depois chamada de Belo Horizonte), planejada do zero, em 1897, forjavam a roupagem moderna da jovem República.

No entanto, uma Abolição mais do que tardia, proclamada apenas um ano antes do golpe que instituiu a República, fazia com que o ‘moderno’ não fosse apenas sinônimo de atualidade e progresso, mas também violência, apagamento e eugenia.”

Grande parte das fotos exibidas foi tirada nas ruas das capitais. As imagens feitas pelo português Francisco du Bocage, por exemplo, documentam a derrubada de sobrados de estilo colonial e edifícios históricos no chamado Bairro do Recife, na capital pernambucana, nas primeiras décadas do século 20.

Também estão presentes estereoscopias do amador Guilherme Santos, que mostram a derrubada do morro do Castelo, no Rio de Janeiro, e os últimos moradores a deixar o local, em 1922.

Nesse contexto de reformulação das cidades, assim como a fotografia, o cinema passou a estar cada vez mais presente no cotidiano urbano. A mostra inclui imagens, por exemplo, do interior do Cine Pathé, terceiro cinema fixo do Rio de Janeiro, fundado em 1907 pelo fotógrafo Marc Ferrez.

Também é exibido o filme Reminiscências (1909), do mineiro Aristides Junqueira, onde ele registra sua própria família, em uma das cenas mais antigas do cinema brasileiro.

Como contraponto ainda à imagem oficial das cidades modernas, são apresentados registros do universo do trabalho e do movimento operário. Um dos destaques é a foto da primeira greve geral, de 1917, em São Paulo, onde trabalhadores estão reunidos em um comício. Também é exibido o curta Cerâmica Horizontina (1920), de Igino Bonfioli, que mostra o cotidiano de uma fábrica.

Produzido inicialmente com fins de propaganda, o filme revela a presença de inúmeras crianças e adolescentes no local, constituindo-se num documento das condições precárias de trabalho do período. Na mostra, essas imagens são contrapostas por registros de residências burguesas e retratos de estúdio da elite.

Em cartaz até 26 de fevereiro de 2023, a exposição trata do desenvolvimento da fotografia no Brasil, em paralelo à consolidação de uma cultura urbana no país.

Para Heloísa Espada, “a seleção joga luz sobre a produção fotográfica que não foi contemplada pela Semana de Arte Moderna de 1922, mas que esteve fortemente presente no imaginário urbano da época por meio da imprensa, do cinema, do cartão-postal, das revistas ilustradas e da produção amadora”.

Reunindo registros de autores diversos, a mostra evidencia também as contradições e tensões presentes na construção do projeto de um país moderno durante a Primeira República.

Como parte de sua programação paralela, a exposição contará com uma série de atividades. Em novembro, o videoartista Raimo Benedetti ministrará um curso sobre lanternas mágicas, projetores de imagens criados em 1659 (veja os dias e valores aqui).

A programação também incluirá uma sessão do filme Tormenta, com trilha sonora ao vivo. Mais informações serão veiculadas em breve no site do IMS.

Sobre o catálogo
Por ocasião da mostra, o IMS lançará o catálogo Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930. A publicação traz imagens de fotógrafos presentes na exposição, além de textos de autoria de Heloisa Espada, Renata Marquez, Eduardo Morettin e Nelson Sanjad. O livro estará à venda em breve nas livrarias e na loja online do IMS.

Serviço:
Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930
Abertura: 13 de setembro
Visitação: até 26 de fevereiro de 2023
IMS Paulista
Entrada gratuita

IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424 / São Paulo, SP
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
Tel.: 11 2842-9120
https://ims.com.br/unidade/sao-paulo/