O Instituto Gustavo Rosa lança o livro GUSTAVO ROSA – A INVENÇÃO DO PARAÍSO e abertura da exposição LINHA DO TEMPO, a partir de 6 de novembro na sede do Instituto, na rua Veneza, 920, Jardim Paulista

Invenção do Paraíso

Gustavo Rosa, Sem título 1976 e Sem título 1975

O livro é a primeira publicação de arte do Instituto Gustavo Rosa, IGR. A curadoria é de Jacob Klintowitz, um dos mais respeitados e importantes críticos de arte do país. Em seu ensaio, a trajetória vivida pelo artista nos quase 50 anos em que transformou telas e outros suportes em poesia pictórica, trazendo à luz um lúdico universo artístico repleto de cor, alegria e alto astral. “O que se pode dizer com clareza é que Gustavo Rosa tinha extraordinária capacidade de síntese formal, o que o aproximava de artistas como Paul Cézanne, Paul Klee, Constantin Brancusi, Pablo Picasso e, no Brasil, de Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Milton Dacosta, Di Cavalcanti. E certamente Botero tornou-se para Gustavo uma Referência”, fala Klintowitz sobre a obra do artista.

Em GUSTAVO ROSA – A INVENÇÃO DO PARAÍSO 80% das obras são inéditas e fazem parte do acervo de colecionadores, que desde já estão convidados a levarem suas obras ao IGR para a certificação, sem nenhum custo. O pintor falava em uma produção de quase 5 mil obras que traduzem sua paixão pela figura humana tornando os meninos empinando pipas, o sorveteiro, os palhaços, o padre, a freira, o vendedor de hot dogs e tantos outros, personagens que eram o espelho da sociedade vibrante do pós-guerra.

Destas 5 mil obras, 1.131 já foram catalogadas pelo IGR, entre janeiro de 2014 e junho de 2019, com certificado de autenticidade em papel filigranado com mais de 8 itens de segurança, incluindo selo holográfico void e até mesmo a imagem de seu verso, mostrando a excelência do trabalho. Este lançamento também pavimenta a futura publicação do Catálogo Raisonné de Gustavo Rosa (documentação qualificada de todos os trabalhos).

Na mesma data será inaugurada a exposição LINHA DO TEMPO, com a trajetória do artista. Gustavo Rosa nasceu em 1946, em São Paulo, e com 18 anos participou de uma coletiva que lhe rendeu o elogio do pintor Di Cavalcanti: “este rapaz tem um traço muito bom”. A partir daí Gustavo estabeleceu com ele uma afeição, no início respeitosa, que se transformou com o passar dos anos em amizade verdadeira até a morte do precursor do modernismo no Brasil.

Em 1964 passou a frequentar o curso livre de desenho e pintura da Fundação Armando Álvares Penteado-FAAP, ministrado pela artista plástica Teresa Nazar, pintora pioneira – ao lado de Rubens Gerchman, Antônio Dias, Hélio Oiticica e Carlos Vergara – da Pop Art no Brasil.

Nesta exposição, público e crítica terão a oportunidade de entrar em contato com a pouco conhecida produção de Gustavo Rosa entre os anos 60, 70 e 80. Estão na LINHA DO TEMPO as principais exposições em que Gustavo Rosa participou, críticas da época além de algumas premiações. Entre eles o prêmio principal outorgado por Walter Zanini e Pietro Maria Bardi, em 1969, no 1º Festival das Artes Interclubes de São Paulo.

Gustavo Rosa – Gustavo Machado Rosa veio ao mundo em São Paulo às 7h38 do dia 20 de dezembro de 1946 na Maternidade Pró-Matre, coração da Av. Paulista. Como declarou anos depois, nasceu desenhando. Sua mãe, Cecília de Paula Machado Netto, relembrava-o por volta dos três anos de idade, de bruços no chão, a desenhar compulsivamente em blocos de papel, quando não o fazia nas paredes de casa ou nos cadernos escolares, em páginas que transbordavam cenas e figuras que o então menino percebia à sua volta. Tornaram-se personagens de sua obra a mulher com lata d’água na cabeça, os meninos empinando pipas, o sorveteiro, os palhaços que atiçavam seu olhar nos circos que frequentava com os pais, o padre e a freira, o vendedor de hot-dog, os beatniks e tantos outros personagens que eram o espelho da sociedade vibrante do pós guerra.

Seus estudos regulares foram na Escola Morumbi e no Colégio Paes Leme. Indisciplinado e inquieto, durante as aulas desenhava o tempo todo, dote natural e compulsivo que o abençoou desde cedo. Anos mais tarde, fascinado pelas ilustrações belíssimas da revista Claudia, estagiou no setor de artes da Editora Abril. O destino, no entanto, lhe reservara outros caminhos na criação artística e em pouco tempo passou a dedicar-se a ela por conta própria, no ateliê improvisado na sala de jantar da casa de seus pais.

Em 1964 passou a frequentar o curso livre de desenho e pintura da Fundação Armando Álvares Penteado-FAAP, ministrado pela artista plástica Teresa Nazar, pintora pioneira – ao lado de Rubens Gerchman, Antônio Dias, Hélio Oiticica e Carlos Vergara – da Pop Art no Brasil. Nessas aulas/ateliês Gustavo aprendeu composição, enquadramento, uso de cores e, em especial, instruiu-se de conceitos básicos à apreensão e representação do corpo humano, proporcionado pelas aulas com modelo vivo. Impressionada com a evolução e qualidade das obras produzidas por Gustavo, Teresa Nazar escolheu quatro delas para serem expostas, em 1964, na Primeira Anual de Artes Plásticas da FAAP, realizada no MAB – Museu de Arte Brasileira, primeira exposição pública que marcaria o início das quase cinco décadas de sua trajetória artística: 1964-2013. Também participaram dessa mostra Luisa Strina, Selma Garrido e, entre outros, Lívio Augusto Malzone.

Além das aulas de modelo vivo, Gustavo ficou impressionado com a produção plástica de Klimt e Emil Nold. Após esse breve curso, Gustavo renunciou às escolas; segundo ele “extraíam muito do seu tempo” e, assim, rendeu-se totalmente à sua paixão: desenhar-pintar, uma obsessão que lhe permitiu tornar visual seu universo interior pleno de recordações, sensações e reminiscências: “tudo o que eu fazia – a partir dos meus quatro anos de idade – era desenhar”.

Em 1969 participou de sua primeira exposição coletiva em uma galeria de arte, ao lado de obras de Walter Levy, Dirce Pires e Décio Escobar. Era a antiga Galeria Vice-Rey. Di Cavalcanti visitou a mostra e, após olhar os quadros de Gustavo, comentou: “Esse rapaz tem um traço muito bom”. O comentário de Emiliano Di Cavalcanti foi um grande estímulo para o artista iniciante. A partir daí Gustavo estabeleceu com ele uma afeição, no início respeitosa, que se transformou com o passar dos anos em amizade verdadeira até a morte do precursor do modernismo no Brasil.

Em 1969 Gustavo se inscreveu no setor de pintura para participar do “Primeiro Festival das Artes InterClubes de São Paulo”. Os críticos Walter Zanini e Pietro Maria Bardi, membros do júri de seleção e premiação lhe outorgaram Medalha de Ouro e o júri geral de todas as categorias (fotografia, arquitetura, pintura, música e literatura) composto por, entre outros, Maria Helena Chartuni, Lew Parrella, Olivier Perroy, Eduardo Kneese de Mello, Lúcio Grinover, Paulo Mendes da Rocha e Cecília Meirelles, lhe atribuíram a principal honraria do evento: “Prêmio Viagem ao Exterior”.

Em 1970 realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Bonfiglioli – simultânea à mostra de Célia Cotrim. Gustavo apresentou uma série de desenhos de grandes formatos que captavam, quase fotograficamente, os aspectos físicos e os semblantes fisionômicos dos personagens retratados. Esta fase lhe rendeu elogios e muitas encomendas de “portrait”, que lhe garantiram, já no início de sua carreira, viver de sua própria arte – um fato incomum para aquela época, mesmo para os artistas plásticos com trajetórias já consolidadas. Na fase seguinte o pintor idealizou uma série reinterpretativa da figura carismática do palhaço.

Em composições ousadas, estruturadas, incomuns, revitalizou e descobriu uma nova maneira de apresentar a presença ímpar dessa figura do imaginário popular. Em seguida a série “Bicicletas”, onde a crítica de arte Ernestina Karman classifica Gustavo como um “observador inteligente e sensível, capaz de captar não apenas a maneira de viver, mas em especial, as mais espontâneas emoções do ser humano”. Em 1973, numa exposição antológica denominada “O Quadrado”, incluiu ou transformou formas humanas em composições plásticas quadrangulares. Uma mudança radical em sua obra destacada pela Crítica e apreciadores de arte da época.

As influências de Klimt e Emile Nold foram ampliadas e o pintor interessava-se cada vez mais pelas obras dos mestres: Klee, Picasso, Matisse, Cézanne, Saul Steinberg, Niki de Saint Phalle e dos seus amigos Volpi, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei e Carlos Scliar.

Em 1979, com o apoio de Alfredo Volpi, assumiu uma nova mudança não apenas temática, mas em especial, técnica. Substituiu a tinta a óleo pela têmpera a ovo, aprendida, pacientemente com o mestre, que lhe deu a “receita” de como prepará-la e utilizá-la artisticamente. Apresentada na Galeria Documenta, essa nova fase técnica foi saudada e a exposição incluída entre as melhores mostras daquele ano.

Além da têmpera com Volpi e da gravura em metal, ensinada pelo gravador americano Rudy Pozzatti num curso especial na FAAP, a colagem foi incorporada, redimensionada e utilizada em sua obra até o fim de sua vida. Sem nunca esquecer ou abolir de sua obra a representação imagética, em 1981 o tema natureza morta foi desenvolvido, pela primeira vez, como uma ramificação de sua permanente temática figurativa. A incorporação desse tema rendeu-lhe uma série de pinturas atemporais. Nesta fase fica evidente a influência compositiva de Cézanne e a colorística de Matisse.

A seguir idealizou a série “As Banhistas”, retomando um tema clássico da história da arte, reinterpretado magistralmente, no final do século XIX e primeira metade do século XX, por Georges Seurat, Pierre-Auguste Renoir, Paul Cézanne, Henri Matisse e, entre outros, Pablo Picasso. Diferentemente desses grandes mestres – seus ídolos – com humor Gustavo atualizou essa temática tendo como meta o pensamento do grande escritor George Orwell: “Tudo o que tem piada, é subversivo”, um mote sempre seguido por Gustavo Rosa.

Além de importantes exposições individuais e coletivas no Brasil, Estados Unidos e Japão, a década de 1970 marcou a vida pessoal do artista. Em 1978, a morte precoce de sua irmã, Ana Maria, assinalou um dos momentos mais tristes de sua vida. Este fato o conduziu a uma nova maneira de viver e a uma metamorfose estética-compositiva da sua obra. Em uma entrevista Gustavo explicou: “Eu vi que a vida não podia ser levada com tanto rigor e, a partir daí, o meu trabalho teve uma transformação.” Essa perda o levou a procurar uma nova maneira não só de viver, mas de criar. O novo savoir-vivre o induziu a uma obra mais despojada, humorada, colorida e até satírica: uma forma de fazer críticas ao avesso.

A década de 1980 consagrou sua carreira. Os mais importantes críticos de arte do Brasil o selecionaram, premiaram e indicaram para grandes mostras de arte: “Panoramas da Arte Atual Brasileira” do Museu de Arte Moderna de São Paulo, “Exposição Brasil-Japão”, “Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte”, “Salão Paulista de Arte Contemporânea” e, entre outras, a exposição “A Trama do Gosto”, realizada pela Fundação Bienal de São Paulo em 1987. Além das grandes mostras coletivas, Gustavo realizou exposições individuais em Nova York, Los Angeles, Rio de Janeiro, Porto Alegre e, em São Paulo, comemorou, em 1985, seus “20 anos de Pintura” na Galeria Bonfiglioli.

A década de 1990 consolidou sua obra. Gustavo voltou a expor nos Estados Unidos, no International Museum of 20th Century Arts, de Los Angeles, em Egremont, Massachusetts, e em Miami, na Collection Gallery. Na Espanha, em Barcelona no Museo Del Barça e no Studio La Secca. No Brasil, em 1992, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro participou da ECO-ART, uma mostra paralela ao evento global ECO 92.

Apesar dos sucessos nacional e internacional, o final dos anos 1990 lhe reservaria um enorme sofrimento. Depois de sentir dores em várias partes do corpo e ter passado por vários exames, em 1999 foi diagnosticado um mieloma múltiplo, câncer na medula óssea. Mais uma vez Gustavo encontrou forças para enfrentar o seu maior desafio: lutar contra esse grande mal. Um combate que consumiu suas forças durante 14 anos, até a sua morte em 2013. Estoicamente resistiu e, na medida do possível, não parou de produzir, expor e doar obras para serem leiloadas com fins beneficentes, uma rotina que ele praticava desde os anos 1970.

Serviço:
GUSTAVO ROSA – A INVENÇÃO DO PARAÍSO
304 páginas, R$ 150 – venda pelo site www.gustavorosa.org.br

Exposição: a partir de 6 de novembro, das 9h às 18h30
Rua Veneza, 920 – Jardim Paulista
(11) 3887-8249 e 995-000-012
https://www.gustavorosa.org.br/