O design curitibano celebra 50 anos de história, revelando como o ensino pioneiro da PUCPR e da UFPR moldou uma cultura visual inovadora e reconhecida em todo o Brasil. / Por Ericson Straub

 

Design curitibano, cultura projetual, modernidade e pedagogia do olhar

Ericson Straub

O design curitibano completa 50 anos com legado que une tradição gráfica, ensino pioneiro e inovação projetual na PUCPR e na UFPR..


Curitiba construiu sua reputação visual muito antes de o termo “design” ganhar espaço acadêmico. Desde o final do século XIX, a cidade já se destacava pela excelência das artes gráficas e da produção editorial. A Impressora Paranaense foi um marco nesse percurso, produzindo rótulos de erva-mate que se tornaram referência nacional de qualidade técnica e refinamento visual, firmando a identidade gráfica curitibana.

Efervescência cultural e a força criativa dos anos 1970

Nas décadas de 1970 e 1980, Curitiba viveu uma efervescência cultural sem precedentes. Era a cidade de Poty Lazzarotto e Dalton Trevisan, mas também de Paulo Leminski, Alice Ruiz, Jamil Snege, Helena Kolody, Miran, Zeno Otto, Solda, Retamozzo, Ernani Buchmann, Desidério Pansera, José Dionísio Rodrigues, Abrão Assad, Manoel Coelho, Jaime Lerner e Marcio Santos. Arquitetos, escritores, artistas e designers atuavam integradamente, criando uma cena intelectual vibrante que transformou a cidade em laboratório de ideias e linguagens visuais.

Publicações culturais e a consolidação do design gráfico

O design curitibano encontrou nos impressos culturais um território fértil. Jornais como O Raposa e Nicolau destacaram a qualidade dos artistas gráficos locais. O Raposa, idealizado por Miran, seria o embrião da Revista Gráfica, lançada na década de 1980 e reconhecida como uma das principais publicações de design do país. Nos anos 2000, a Abcdesign reforçou esse protagonismo nacional. Até então, muitos profissionais eram autodidatas, vindos da publicidade e das artes plásticas, mas a crescente demanda por formação técnica levou à criação dos primeiros cursos de design na cidade.

O ensino de design e a influência moderna

A institucionalização do design no Brasil remonta aos anos 1960, com a criação da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro, influenciada pela Escola de Ulm e pelo pensamento funcionalista alemão. Essa referência inspirou cursos em todo o país e foi determinante para o surgimento do ensino de design no Sul, particularmente em Curitiba.

Aramis Demeterco e a gênese do ensino em Curitiba

Na Universidade Católica do Paraná, o professor Aramis Demeterco, docente de Geometria Descritiva e Desenho Básico, percebeu a necessidade de formar profissionais que unissem rigor técnico e sensibilidade artística. Assim nasceu, em 1975, o curso de Desenho Industrial da instituição — que, posteriormente, se tornaria a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

O curso iniciou suas atividades em anexo ao Colégio Santa Maria, na Rua Quinze de Novembro, transferido em 1976 para o câmpus do Prado Velho. No mesmo período, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) também criou seu curso de Desenho Industrial, consolidando Curitiba como referência no ensino de design no Sul do Brasil.

Meio século de formação e impacto

Ao longo de 50 anos, o curso de design da PUCPR formou profissionais que atuaram na indústria, na cultura e na educação, disseminando o pensamento projetual em todo o Sul do país. A metodologia, pautada na criatividade, na resolução de problemas e na integração entre arte e técnica, tornou-se um modelo de inovação e sensibilidade social. Muitos ex-alunos levaram essa pedagogia para outras instituições, ampliando a influência do design curitibano em diferentes contextos regionais.

O design curitibano no século XXI

A partir dos anos 2000, o curso da PUCPR consolidou-se como um dos mais importantes do Brasil. Sua estrutura curricular reflete uma formação transversal e sistêmica, voltada para as diversas vertentes do campo — design gráfico, de produto, de moda, UX, service design, inovação e branding. Essa abordagem, sintonizada com as transformações tecnológicas e culturais, mantém viva a essência do design curitibano: rigor, inventividade e compromisso com o tempo presente.

 

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#A matriz gráfica como gênese do pensamento projetual

A trajetória do design em Curitiba evidencia um percurso singular no contexto brasileiro: a passagem das artes gráficas para o design enquanto campo estruturado do saber. A produção de rótulos e impressos no final do século XIX não somente consolidou a imagem da cidade como polo tipográfico e editorial, mas também instaurou um modo de pensar visualmente a comunicação — rigor formal, síntese estética e clareza funcional.

Essa tradição gráfica prefigurou o raciocínio projetual que, décadas depois, se expandiria para o campo do design industrial e para o pensamento de produto.

#Anos 1970: o design como linguagem cultural

O ambiente cultural curitibano dos anos 1970 foi propício à formação de uma linguagem de design enraizada na interdisciplinaridade. A convivência entre artistas, escritores, arquitetos e designers deu origem a uma ecologia criativa na qual o projeto gráfico era expressão de um modo de pensar a cidade, sua paisagem e sua cultura.

Nesse contexto, o design assumiu papel de mediação simbólica — articulando a comunicação visual às narrativas urbanas e culturais. O jornal O Raposa e a revista Nicolau exemplificam essa capacidade de fundir experimentação estética e discurso crítico, antecipando uma concepção ampliada de design como instrumento cultural.

#Da informalidade artística à formação acadêmica

O processo de institucionalização do design em Curitiba acompanha uma transformação mais ampla no país: a transição de um campo empírico e autodidata para um corpo disciplinar com metodologia própria. A criação dos cursos de Desenho Industrial na PUCPR e na UFPR representou um marco dessa virada epistemológica.

Sob a influência da ESDI e da escola de Ulm, o design curitibano incorporou o raciocínio sistêmico, a análise funcional e o compromisso com a dimensão social do projeto. Essa inflexão deslocou o design da esfera da arte aplicada para o domínio da técnica, da indústria e da educação.

#A pedagogia do design e a humanização da técnica

A concepção de ensino introduzida por Aramis Demeterco no curso da então Universidade Católica do Paraná reflete um gesto de humanização do ensino técnico. O design foi pensado como instrumento de mediação entre ciência, indústria e sociedade — uma postura pedagógica que valorizava tanto a racionalidade construtiva quanto a sensibilidade formal.

Essa orientação projetual transformou o curso em um espaço de convergência entre arte e tecnologia, promovendo uma prática educativa pautada na observação, no desenho e na resolução de problemas reais.

#Transversalidade e contemporaneidade como fundamentos

A consolidação do curso de design da PUCPR nos anos 2000 reafirma uma visão contemporânea de ensino: a transversalidade entre disciplinas e a integração entre diferentes escalas de projeto.

O currículo reflete a compreensão do design como prática complexa e relacional, que vai do objeto ao sistema, do artefato ao serviço, do gráfico ao digital. Essa abordagem sistêmica amplia o papel do designer para além da forma — situando-o como agente estratégico na transformação cultural, ambiental e tecnológica da sociedade.

#O design como cultura do projeto

A história do design curitibano revela mais do que a evolução de uma profissão: traduz a formação de uma cultura do projeto. Trata-se de um modo de pensar que articula tradição gráfica, racionalidade moderna e consciência social.

Em meio século, o design em Curitiba passou a ser entendido não somente como linguagem estética, mas como instrumento de reflexão e inovação — um campo onde a forma é consequência direta da ideia, e a técnica, uma extensão da cultura.

Ericson Straub é professor do curso de Design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

Contato:
Straub Desin
https://www.straubdesign.com.br/

 

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