A Galeria Berenice Arvani, em SP, exibe arte pop brasileira que virou arma contra a censura na ditadura militar — veja obras icônicas dos anos 60/70

Irmgard Longman, Óleo sobre tela, Ano: 1967, Dimensões: 80x99cm
Pops e Rebeldes” na Galeria Berenice Arvani traz arte pop brasileira dos anos 60/70, com obras de Nelson Leirner e Judith Lauand. Uma crítica à ditadura através da Nova Figuração. Visitação até 05/05.
Pops e Rebeldes na Resistência na Ditadura
A Galeria Berenice Arvani, em São Paulo, apresenta até 5 de maio de 2025 a exposição Pops e Rebeldes, um mergulho na produção de artistas que, nas décadas de 1960 e 1970, usaram a arte como instrumento de resistência à repressão da ditadura militar.
Sob curadoria de Celso Fioravante, a mostra reúne obras emblemáticas da arte pop brasileira e do movimento da Nova Figuração, assinadas por nomes como Nelson Leirner, Judith Lauand, Teresa Nazar, Glauco Rodrigues e Zélio Alves Pinto.
A abertura ocorreu em 27 de março, das 19h às 22h, com visitação aberta ao público desde o dia seguinte. A seleção estabelece um elo direto com a histórica exposição Opinião 65, realizada no MAM-RJ, marco da consolidação da Nova Figuração no Brasil e do seu caráter afirmativo, combativo e visceral.
Estética da contestação
“Era uma resposta ao abstracionismo, mas também um manifesto visual sobre os dilemas políticos da época”, afirma Berenice Arvani, galerista e curadora. Essa pulsão crítica e humanista é reiterada por Fioravante: “Esses artistas construíram uma imagem do Brasil real, sangrento e contestador, questionando a censura e a repressão do regime militar.”
A exposição revela como a Nova Figuração nacional traduziu, com originalidade, influências do construtivismo, do expressionismo e da arte popular, subvertendo os códigos da linguagem visual tradicional.
Suas obras protestam e celebram o afeto, o prazer e a própria política como atos revolucionários, inserindo emoção e identidade na luta simbólica.
Estratégias visuais e subversão pop
Composta por colagens, distorções formais e cores saturadas, a produção dos artistas reunidos em Pops e Rebeldes usa a ironia e da apropriação da cultura de massa para tensionar o discurso oficial. Nelson Leirner, por exemplo, transforma ícones do consumo em alegorias do absurdo político. Já Glauco Rodrigues articula sensualidade e crítica social em composições vibrantes que desafiam o olhar acomodado.
As obras funcionam como artefatos visuais de resistência, comunicando, em silêncio eloquente, as tensões de um país em ebulição. A potência estética desses trabalhos reside justamente na sua capacidade de traduzir o drama histórico em linguagem acessível, provocadora e atual.
Um legado ainda insurgente
Mais do que uma retrospectiva, Pops e Rebeldes é um manifesto curatorial sobre a permanência da Nova Figuração como postura — estética e ética. O olhar lançado sobre esse período ilumina conexões com a produção contemporânea e evidência como a arte, quando enraizada no real, continua sendo um território de embate simbólico.
A mostra reafirma o papel desses artistas como agentes de transformação, cuja ousadia formal e compromisso político ecoam nas gerações seguintes. Um convite à contemplação e à escuta atenta de uma época em que a imagem era trincheira, e a arte, insurgência.
Participantes:
Antonio Henrique Amaral: conhecido por sua série “Bananas”, na qual utiliza a figuração para expressar críticas ácidas ao regime político e à repressão da época.
Décio Noviello: artista e designer gráfico, destacou-se pela fusão entre a arte e a comunicação visual, criando obras de forte impacto estético e social.
Glauco Rodrigues: trouxe para suas telas um olhar irônico e colorido sobre a identidade brasileira, ressignificando símbolos nacionais com um viés crítico.
Inácio Rodrigues: explorou a relação entre a figuração e o abstrato, utilizando cores vibrantes e composições dinâmicas para expressar sua visão de mundo.
Irmgard Longman: trouxe uma abordagem singular para a arte pop brasileira, combinando elementos geométricos e figurativos para criar uma estética sofisticada e impactante.
Judith Lauand: transcendeu o concretismo ao incorporar novas experiências visuais, tornando-se uma das grandes expoentes da arte brasileira.
Maurício Nogueira Lima: um dos grandes nomes da arte concreta, mas também transitou pela Nova Figuração, explorando a interação entre cor, forma e comunicação visual.
Nelson Leirner: conhecido por sua ironia e crítica contundente ao mercado de arte e à cultura de consumo, utilizando ready-mades e objetos cotidianos em suas obras.
Rubens Gerchman: um dos principais nomes da Nova Figuração, trazendo para suas obras um diálogo direto com a sociedade, a política e a linguagem da propaganda.
Teresa Nazar: artista argentina radicada no Brasil, incorporou elementos surrealistas à sua produção, criando imagens oníricas e repletas de simbolismo.
Tomoshigue Kusuno: de origem japonesa, imprimiu sua influência oriental na arte pop brasileira, criando uma estética diferenciada e de forte impacto visual.
Victor Gerhardt: explorou temas urbanos e sociais em suas obras, trazendo uma abordagem crítica e inovadora para a figuração brasileira.
Zélio Alves Pinto: transitou entre a arte plástica e o cartum, utilizando um traço ágil e expressivo para retratar a sociedade com humor e perspicácia.
Serviço
Exposição “Pops e Rebeldes”
Curadoria: Celso Fioravante
Até 5 de maio/2025
Dias e horários de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h.
Galeria Berenice Arvani
Rua Oscar Freire, 540, Jardins, São Paulo (SP).
(11) 3082-1927
Contato
Galeria Berenice Arvani
(11) 3082-1927 / (11) 3088-2843
http://www.galeriaberenicearvani.com/

Referências — Arte pop brasileira, Nova Figuração, Exposição São Paulo, Arte e ditadura, Galeria Berenice Arvani, Nelson Leirner, Judith Lauand, Resistência artística, Agência Vetor.am.
[Pesquisar nesta página]
*Gostou da informação? Compartilhe!