Arquiteto Francisco Pinto, responsável pelo projeto de interiores do 1835, em Canela (RS), mostra como assimilar objetos utilitários e de arte em um projeto moderno e arrojado
Elementos afetivos, que atravessam gerações, sempre podem fazer parte da decoração, tanto de uma casa quanto de espaços comerciais, como um restaurante ou um hotel.
Eles carregam consigo histórias e servem de retrato do seu tempo. Mas nem sempre é fácil incluir esses objetos em um projeto contemporâneo. Para isso, o processo de customização e ressignificação podem ser ótimos aliados.
Foi o que o designer de interiores Francisco Pinto realizou no ambiente do Kempinski Laje de Pedra, junto ao 1835 – Carne e Brasa, em Canela.
Restaurante localizado no prédio em processo de revitalização do antigo hotel Laje de Pedra, o local funciona como um preview aos visitantes do que será encontrado no local a partir de 2026 – data de abertura do hotel e residências do Kempinski Laje de Pedra, primeira operação da rede hoteleira de luxo mais antiga da Europa na América do Sul.
Por lá, releituras de pratos tradicionais com uma pegada contemporânea dialogam perfeitamente com o resgate da ideia ancestral dos encontros e conexões em volta do fogo. E na decoração não podia ser diferente.
Francisco Pinto incorporou o mobiliário do hotel desativado com novas roupagens. “Desde o início pensamos que esse projeto precisava considerar os materiais presentes no Laje de Pedra e na região – como o basalto, a madeira, o couro e as fibras naturais.
Depois, tivemos a percepção de aproveitar o que já estava ali para mostrar que o intuito da revitalização do hotel não é invalidar o passado, mas valorizá-lo ao mirar novas possibilidades”, descreve Francisco Pinto.
Destaques do profissional para customizar objetos afetivos e incorporá-los perfeitamente à decoração contemporânea:
Revisitar obras de arte e fotos de família
As gravuras do artista plástico gaúcho Vitório Gheno, hoje com 98 anos, foram um achado de Francisco Pinto ao visitar pela primeira vez o local. “São cenas que revelam a beleza da simplicidade do pampa, da fazenda e do assado. Exatamente o que inspirou o projeto”, diz Francisco.
No restaurante que integra o Kempinski Laje de Pedra, as gravuras ganharam destaque na decoração com a substituição da moldura tradicional em madeira escura por um modelo em vidro, mais leve e despojado.
A opção de buscar diferentes molduras e estruturas, priorizando materiais e cores já presentes na decoração do ambiente, vale tanto para obras de arte quanto para fotos de família.
Na dúvida, pintura e estofamento novos
As banquetas do bar já eram utilizadas por quem ia ao tradicional Bar do Laje. No projeto de Francisco a madeira foi revitalizada, pintada de preto, e o estofamento foi substituído por pele natural preta e branca. As cadeiras e poltronas também foram estofadas com couro natural – em marrom e preto&branco.
Transformar móveis em artigos de luxo através da customização com materiais nobres
As mesas do refeitório de funcionários do hotel foram trazidas ao salão social. Os pés foram recuperados e pintados com laca e acabamento em madeira. O tampo simples foi substituído por mármore, trazendo sofisticação ao mobiliário. A composição com cadeiras e poltronas de diferentes estilos em couro e veludo cria uma composição vintage elegante.
Tirar proveito da força dos elementos e criar pontos focais
Um dos pontos focais do Kempinski Laje de Pedra e do restaurante 1835, a lareira passou por um processo completo de reestruturação.
Conhecida por todos os que já se hospedaram no hotel icônico, a lareira teve as principais características, como a base de pedra e a chaminé em ferro, mantidas, mas revitalizadas.
“Foram tantos acontecimentos em volta desse fogo, que a estrutura não poderia ser simplesmente retirada ou substituída”, comenta Pinto. Elementos volumosos como este podem ser de difícil assimilação na decoração contemporânea; por isso, é importante usá-los como centro gravitacional do projeto.
Misturar estampas e padronagens
Tapetes de diferentes tamanhos e texturas podem formar um mosaico agradável. Para o projeto de interiores do 1835 foram selecionados aqueles com cores e estampas semelhantes para gerar um estímulo visual harmonioso. O mesmo vale para tapeçarias, almofadas, cortinas e outros tecidos.
No projeto de Francisco Pinto em Canela, os tapetes que não foram arrematados em leilão beneficente de itens do hotel Laje de Pedra, realizado em 2021, foram ressignificados em um “patchwork” de estampas.
Sob a mesa de madeira maciça de aproximadamente 4 metros de comprimento em um dos espaços mais nobres do restaurante, as diferentes modelagens e texturas foram dispostas a fim de criar uma sensação de acolhimento e um visual despojado.
A valorização das características naturais da região e arquitetônicas presentes no prédio histórico com fortes traços modernos é o ponto de partida do Kempinski Laje de Pedra.
Este cuidado em preservar memórias à medida que novas se constroem, honrando a cultura local e o passado e assimilando-o na contemporaneidade, são valores do empreendimento traduzidos da arquitetura à gastronomia.
Especificação:
Cadeiras butterfly – @nicolapoa
Granito escovado – @rositoluce
Estofaria – @bravaforma
Mesas – @casaraoantiguidadesgibi
Queimadores – @ecoflamegarden
Mesas apoio – @noventamil
Churrasqueiras – @scheerchurrasqueiras
Banquetas – @aristeupiresdesign
Luminária – @mundareuonline
Mesa de centro – @noventamil
Tapete Zili Hemp – @expressodooriente
Luminárias – @inesschertel
Contato:
Francisco Pinto Arquiteto
https://arqbrasil.com.br/24294/francisco-pinto-arquiteto/
http://franciscopinto.arq.br/portal/