Como é possível esse setor crescer tanto, mesmo durante períodos tão delicados / Por Elaine Guedes
Elaine Guedes, da Montana Quimica
Mesmo durante meses difíceis, ainda impactados pela pandemia de covid-19, o PIB da construção civil cresceu 8% em 2021, de acordo com o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo). O número ficou muito acima daquele projetado pela FGV no final de 2020.
Naquele momento, a Fundação Getulio Vargas calculava que, em 2021, esse valor seria de algo próximo dos 4%. Literalmente, cresceu o dobro.
Como é possível esse setor crescer tanto, mesmo durante períodos tão delicados, causados principalmente pelas ondas de alta contaminação de covid-19?
Em primeiro lugar, teve início a vacinação no começo de 2021, o que aumentou a confiança na retomada de setores essenciais, como a construção ao longo do ano passado. Paralelamente, os consumidores passaram a prestar mais atenção em seus lares, já que precisavam passar mais tempo neles.
Perceberam que seria interessante fazer uma pequena reforma; ou se mudaram – ainda que temporariamente – para a casa no interior ou litoral (que também precisava de obras ou reparos). Ou, senão, adaptaram algum cômodo para transformar em home-office.
Há de se levar em conta, também, o fato de que empreendimentos imobiliários são projetos de fôlego, que são planejados e anunciados com alguma antecedência, e diversas obras já estavam programadas antes do começo da pandemia.
Agora, ao que parece, o cenário é outro, com juros muito maiores, e que fazem companhia para a inflação que fechou o ano passado em 10,06%. Para se ter uma ideia, no começo de 2021, a taxa básica de juros estava em 2%, mas em 2022, ela já passa de 11%.
Será que, em 2022, o setor sofrerá uma “ressaca”?
É impossível não pensar nessa apreensão sem levar em conta a nova variante do coronavírus. Depois do surgimento da ômicron, de acordo com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), 75% das empresas pesquisadas pela entidade entre 14 e 21 de janeiro receberam atestados de Covid ou influenza de até 25% dos trabalhadores. Cerca de 12% dessas companhias tiveram de dispensar até metade da equipe.
A expectativa do mercado é que, de fato, o crescimento este ano será menor, por volta dos 2%. Mas há de se levar em conta também que em 2019 o setor registrou crescimento depois de cinco anos negativos, somente para despencar 7% em 2020.
Não é difícil perceber que estamos voltando ao patamar pré-pandemia. Ou seja, trata-se de um sinal de que estamos voltando à tendência de positividade.
Em outros aspectos, é possível vislumbrar algum otimismo, depois das preocupações causadas pela variante ômicron, já que, após a alta de casos, estamos superando essa onda de transmissão do vírus.
A percepção de analistas da construção civil é a de que as empresas, mesmo tendo de se virar com escalas, rodízio de trabalhadores e mudanças no cronograma, não passarão por atrasos para entregar obras e imóveis.
Esse elemento, junto com o avanço da vacinação, é um bom fator para acreditar que a pandemia não deve causar mais prejuízos inesperados ou desfalcar a mão de obra do setor imobiliário. A ciência caminha com otimismo cauteloso, e é assim que todos devemos prosseguir neste ano.
E se não há certeza de que a ômicron é a parada final da pandemia, de algo estamos certos. Para quem precisa construir, principalmente dentro do lar, o período de isolamento, home-office e distanciamento social ensinou algo: o conforto deve ser rei em nosso cotidiano, o espaço deve ser o mais multiuso possível e a sustentabilidade tem de conectar tudo e todos.
Elaine Guedes é diretora comercial da Montana Química, multinacional brasileira referência em tratamento, preservação e proteção de madeira.
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