A espinha dorsal do projeto é a estante suspensa do piso com 26m, que conecta o apartamento de ponta a ponta, e se apresenta como um mobiliário estrutural
Um grande muxarabi – janelas com treliças de madeira – chama a atenção na Al. Ministro Rocha Azevedo, em São Paulo. Trata-se de um edifício residencial muito singular pela sua implantação recuada em relação à calçada, sua forma e os poucos materiais de acabamento.
Trata-se do edifício Antônio Augusto Correia Galvão, localizado nas proximidades da Av. Paulista, projetado em 1964 pelos arquitetos Alberto Botti e Marc Rubin, da Botti & Rubin.
Em sua fachada principal, com cerca de 26 metros de comprimento, as vigas e pilares aparentes deixam transparecer a técnica construtiva utilizada e a plasticidade do concreto. Internamente, as grandes aberturas formam um grande pano de vidro e enquadram a cidade permitindo ótimo aproveitamento da iluminação e ventilação natural, enquanto o fechamento com treliças de madeira possibilita o controle de luz.
A concepção estrutural exposta na fachada é convocada a continuar sua narrativa também no interior do apartamento. Quando demolido o forro, é revelada a beleza do sistema modular em concreto armado, que vence pouco mais de 12m com pórticos e uma grelha em concreto, e permite a flexibilidade de ocupação do andar tipo, sem nenhum pilar interno.
Com aproximadamente 320m² de área útil, a setorização da planta original claramente separa o apartamento em duas alas: o setor da fachada principal abriga os dormitórios, espaços sociais e não apresenta prumadas hidráulicas, enquanto a área dos fundos recebe os serviços, banheiros e cozinha. Isto posto, a releitura da organização da planta manteve e reafirmou o conceito original em relação à divisão hidráulica.
A maior parte das demolições se deu nas áreas molhadas, alterando os ambientes e garantindo a luz natural e ventilação cruzada. É o caso da cozinha, agora na fachada posterior. As demolições também permitiram maior interação entre cozinha e espaço social, já que esses ambientes passam a ser separados apenas por painéis retráteis, criando duas fachadas de luz e ventilação.
A espinha dorsal do projeto é a estante suspensa do piso com 26m, que conecta o apartamento de ponta a ponta, e se apresenta como um mobiliário estrutural para organizar a circulação e a divisão dos espaços. Sua estrutura principal é toda em chapas de aço, tendo seus módulos preenchidos com volumes fechados de marcenaria, a depender do uso.
A composição, além de um desenho adequado à exposição de objetos, responde às necessidades de cada ambiente, seja nas salas de estar, jantar, tv ou dormitórios. Surpreende pela movimentação de partes, por meio de rodízio pendurado, para reconfigurar e dinamizar os espaços originais para situações diferentes.
Além disso, o armário tem a função de demarcar a divisão do que chamamos de “dois hemisférios”: o lado voltado para os ambientes sociais e de dormitórios, na fachada principal, mais urbano e marcado com a recuperação do taco de madeira; o outro, de serviços e áreas molhadas, que se remete ao trabalho, ao fazer, com o piso de ladrilho hidráulico, com cores e formas geométricas. A beleza do trabalho manual também é encontrada no notável painel Panacea Phantastica da artista plástica Adriana Varejão, que reveste a parede da cozinha.
Como contraponto aos nichos da estante, o volume revestido com painéis de madeira define a circulação longitudinal, valorizada pela iluminação.
Como resultado, a reorganização dos espaços otimiza e potencializa as qualidades do desenho original. A reforma proposta valoriza a arquitetura moderna do edifício e sua beleza estrutural, apoiando-se no rigor do detalhamento, ampliando a iluminação e as possibilidades visuais através das novas aberturas, e valorizando a circulação.
Uma ousadia proposta pelos donos do apartamento foi a possibilidade de circular entre os quartos e as salas junto das janelas da fachada principal, criando um circuito excepcional para a família.
Os convencionais halls de elevadores e o hall interno foram integrados espacial e visualmente, com a oportunidade de trazer iluminação natural para o centro do edifício. Criar espaços de qualidade foi o objetivo em cada elemento pensado neste projeto.
Ficha
Reforma de apartamento – AMRA7
Arquitetura do Edifício BOTTI RUBIN Arquitetos I 1958-1964
• Projeto de arquitetura de reforma | 2017-2019
• Piratininga Arquitetos Associados / @piratiningaarquitetos
• Bruno Rossi Arquitetos / @brunorossi_arquitetos
Projeto de luminotécnica LUX Projetos – Ricardo Heder / @luxprojetos / @ricardo_heder
Consultoria de acústica Harmonia Acústica
Projeto de climatização Master Plan
Consultoria de estrutura Aluízio D’Ávila – Eng. Luis Miguel Casella Barrese
Projeto de instalações elétricas PKM Engenharia / @pkmengenharia
Projeto de instalações hidráulicas Usina
Projeto de decoração Manaa Arquitetura / @manaa.arq
Construção DM Engenharia / @dmengenharia
Principais fornecedores e prestadores de serviços
Ladrilho hidráulico – Dalle Piagge / @dallepiaggeladrilhos
Marcenaria Araucária
Marmoraria Montblanc / @marmorariamontblanc
Louças sanitárias – Deca / @decaoficial
Metais sanitários – Deca / @decaoficial
Luminárias – Reka – @rekailuminacao / Lumini – @_lumini
Serralheria Max fer
Armários cozinha / closet – Securit / @securit
Contatos:
Bruno Rossi Arquitetos
(11) 982-454-195 / (19) 3295-0949
https://www.brunorossi.arq.br
Piratininga Arquitetos Associados
(11) 3122-7077
http://www.piratininga.com.br/
Manaa Arquitetura
(19) 3295-0949
http://www.manaarquitetura.com
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