O Jornal da Unesp apura como a verticalização urbana em São Paulo impõe pressão à infraestrutura — entenda como essa dinâmica reflete nos sistemas elétrico, sanitário e de drenagem

 

Limites da verticalização urbana na cidade de São Paulo

A verticalização crescente em bairros paulistanos pressiona as redes elétrica, de esgoto e os sistemas pluviais, exigindo soluções integradas e sustentáveis.


A nova paisagem vertical paulistana

A verticalização dos bairros paulistanos, como a Pompeia, redefine o perfil urbano da Zona Oeste. A substituição de casas e pequenos edifícios por torres residenciais e comerciais impõe uma nova morfologia à cidade, caracterizada por maior densidade e impacto sensorial — barulho, poeira e saturação viária.

Essa transformação decorre da aplicação do Plano Diretor Estratégico de 2014, que promove o adensamento habitacional em áreas próximas a eixos de transporte público.

Em 2023, a ampliação dos coeficientes de aproveitamento intensificou esse processo, permitindo construções com até quatro vezes a área do terreno, sem restrição de altura, desde que atendidos os limites construtivos estabelecidos.

Tal flexibilização estimula o surgimento de edificações de grande porte, nem sempre acompanhadas por soluções técnicas adequadas ou pelo cumprimento rigoroso das normas urbanísticas.

Infraestrutura sob pressão

O crescimento acelerado da densidade populacional expõe a defasagem das redes de infraestrutura urbana. A rede elétrica, concebida para padrões de consumo menos intensos, enfrenta desafios para suportar o aumento da demanda — sobretudo com a popularização de veículos elétricos e a necessidade de pontos de recarga em garagens.

As novas normas de segurança para essas instalações encarecem e complexificam os empreendimentos, levando muitas construtoras a reverem projetos e compromissos inicialmente anunciados.

No campo do saneamento, os sistemas de coleta e tratamento de esgoto também se mostram vulneráveis. Embora São Paulo apresente índice superior à média nacional — com cerca de 75% do esgoto coletado —, falhas estruturais, vazamentos e ligações clandestinas comprometem a eficiência do sistema.

Em áreas de topografia acidentada, como a Pompeia, o risco de refluxo e transbordamento aumenta, sobretudo durante períodos de chuva intensa.

Impermeabilização e riscos ambientais

A verticalização intensiva produz uma consequência direta sobre o regime hídrico urbano: a redução das áreas permeáveis. A expansão de garagens subterrâneas e pavimentos impermeabilizados elimina espaços de infiltração da água da chuva, sobrecarregando galerias pluviais já saturadas. Essa situação é agravada pela ausência de regulamentação rigorosa sobre a taxa de permeabilidade mínima exigida nos novos projetos.

Na Pompeia e em bairros adjacentes, o problema ganha contornos mais críticos pela presença de cursos d’água canalizados, como o córrego da Água Preta. O soterramento desses corpos hídricos, transformados em galerias técnicas, suprime sua proteção legal e dificulta a adoção de políticas de manejo ambiental integradas. As consequências são visíveis: enchentes recorrentes, recalques em fundações e desequilíbrios no microclima urbano.

Estratégias sustentáveis e responsabilidade urbana

A mitigação dos impactos da verticalização exige soluções que transcendam as obras convencionais de contenção, como piscinões. Especialistas defendem o uso de infraestrutura verde — jardins filtrantes, faixas vegetadas, pavimentos drenantes e bacias de detenção — como estratégias eficazes para reequilibrar o ciclo hidrológico urbano.

Tais medidas, aliadas a instrumentos como os estudos de impacto de vizinhança, são fundamentais para assegurar a compatibilidade entre o adensamento construtivo e a capacidade da infraestrutura existente.

O fortalecimento da fiscalização pública e a transparência nos processos de aprovação são igualmente decisivos para o crescimento urbano ocorrer em parâmetros técnicos e ambientais adequados.

Equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade

A verticalização, enquanto diretriz de planejamento, é instrumento legítimo para otimizar o uso do solo urbano e conter a expansão horizontal. Entretanto, quando dissociada de uma política integrada de infraestrutura e meio ambiente, converte-se em vetor de desequilíbrios sociais e ambientais.

O desafio paulistano consiste em conciliar a necessidade de habitação e desenvolvimento econômico com a preservação da qualidade de vida e dos recursos naturais. Para tanto, é imprescindível reavaliar parâmetros de permeabilidade, redes de infraestrutura e normas técnicas de segurança, de modo que a metrópole cresça de forma resiliente, eficiente e justa.

 

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#Fragilidade do modelo de adensamento

A análise do atual modelo de verticalização revela uma incongruência entre o planejamento normativo e a capacidade operacional das redes urbanas. A ausência de limites de altura e o incentivo ao adensamento sem proporcional reforço na infraestrutura resultam em sobrecargas técnicas que comprometem o desempenho urbano.

O sistema elétrico e o saneamento evidenciam essa defasagem, demonstrando a urgência de uma atualização regulatória pautada em dados de capacidade e risco.

#Impactos ambientais e soluções projetuais

A impermeabilização do solo é um dos pontos mais críticos da verticalização. A substituição das superfícies naturais por estruturas cimentícias altera o balanço hídrico e amplia o risco de inundações.

Projetos contemporâneos deveriam incorporar sistemas de drenagem sustentável, como pisos permeáveis, reservatórios de retardo e coberturas vegetadas, que, além de reduzir o impacto ambiental, qualificam o espaço urbano.

#Responsabilidade técnica e governança

O crescimento vertical requer coordenação entre iniciativa privada, poder público e concessionárias. A ausência de integração entre essas instâncias resulta em obras desconectadas das capacidades técnicas reais da cidade.

O futuro da metrópole dependerá de políticas públicas que priorizem a infraestrutura resiliente e o desenho urbano sustentável, considerando não somente o volume construído, mas a qualidade e a compatibilidade dos sistemas que o sustentam.

Essa verticalização paulistana expressa a dualidade entre o avanço urbano e a limitação estrutural. A cidade cresce para o alto, mas ainda busca um equilíbrio que garanta a continuidade de sua vitalidade urbana, social e ambiental.

Contato:
FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
(14) 3103-6000
https://www.faac.unesp.br/

 

Fonte primária Jornal Unesp 

 


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