Exposição Lugar Público — Muntadas transforma o Sesc Pompeia em laboratório de reflexão sobre arte, arquitetura e espaços coletivos

Exposição Lugar Público – Muntadas no Sesc Pompeia

A exposição Lugar Público – Muntadas, em cartaz no Sesc Pompeia até 10 de agosto de 2025, propõe uma imersão crítica no conceito de espaço público por meio de instalações que ocupam a Área de Convivência, projetada por Lina Bo Bardi.

Com curadoria de Diego Matos, a mostra do artista espanhol Antoni Muntadas integra elementos audiovisuais, textuais e dispositivos arquitetônicos que transformam o local em um território de reflexão sobre cidadania e participação coletiva.

Exposição Lugar Público - Muntadas / Fotografia Alexandre Leopoldino

Deriva urbana e interação sensorial

No lado esquerdo da Área de Convivência, um percurso de deriva se inicia com um letreiro luminoso que questiona “Para onde vamos?”. Ao redor, 25 totens espelhados exibem frases provocadoras e, em seus versos, telas de LED mostram registros da ocupação urbana em São Paulo.

A disposição desses elementos remete à teoria situacionista de Guy Debord, estimulando o visitante a flanar sem roteiro prévio, em uma experiência que mistura arte, arquitetura e urbanismo.

Já no lado direito, um grande tapete emborrachado com a inscrição “Vida é edição” convida à pausa e à contemplação. Letreiros como “Seguimos adiante!” reforçam o caráter dialógico da exposição, enquanto estruturas autoportantes ampliam a percepção visual. A expografia, assinada pela arquiteta Anna Ferrari, e o design gráfico de Vitor Cesar potencializam a integração entre obra e espaço construído.

Exposição Lugar Público - Muntadas / Fotografia Alexandre Leopoldino

Memória e trajetória artística

Um setor dedicado à trajetória de Muntadas exibe cartazes de projetos anteriores, destacando sua relação com o Brasil desde os anos 1970. Esses registros evidenciam sua abordagem transdisciplinar, que investiga a comunicação como ferramenta de poder e controle social.



#Intervenções que ressignificam o espaço

A mostra se apropria da linguagem arquitetônica de Lina Bo Bardi, utilizando elementos como totens e letreiros luminosos para criar uma narrativa espacial não linear. A estratégia expositiva rompe com a ideia de percurso fechado, favorecendo a livre circulação e a apropriação pelo público.

#Sinestesia e participação coletiva

A escolha de materiais reflexivos e superfícies interativas estimula uma experiência sinestésica, alinhada ao conceito de “espaço de deriva” proposto por Muntadas. A sobreposição de imagens urbanas em telas de LED, combinada com frases fragmentadas, cria camadas de interpretação que questionam a noção de esfera pública na contemporaneidade.

#Crítica ao urbanismo neoliberal

A exposição tensiona a privatização dos espaços comuns, tema caro a Bo Bardi. Ao transformar a Área de Convivência em um campo de reflexão ativa, a mostra resgata o potencial lúdico e político da arquitetura, reforçando seu papel na construção de uma democracia cultural.

A disposição dos totens espelhados, por exemplo, não só duplica visualmente o espaço, mas também metaforiza a multiplicidade de vozes que compõem a cidade.

#Diálogos entre arte e arquitetura

Lugar Público – Muntadas transcende o formato expositivo tradicional, propondo uma experiência arquitetônica expandida que desafia convenções e convida o espectador a se tornar agente transformador do espaço.

Exposição Lugar Público - Muntadas / Fotografia Alexandre Leopoldino

#A deriva como método crítico: uma ferramenta de resistência urbana

No contexto da exposição Lugar Público – Muntadas e do pensamento de Antoni Muntadas, a deriva (ou dérive, em francês) é um conceito-chave da teoria situacionista, cunhado por Guy Debord nos anos 1950.

Mais do que um simples “passeio sem rumo”, trata-se de uma prática política e estética que subverte a lógica funcionalista das cidades, propondo novas formas de habitar e questionar o espaço urbano.

A deriva é um método de investigação psicogeográfica que envolve:
● Caminhar sem destino prévio, abandonando rotinas e trajetos utilitários (como ir do ponto A ao B para trabalho ou consumo).
● Mapear afetos e tensões — como arquiteturas opressivas, zonas de exclusão ou brechas de liberdade na cidade.
● Criar situações — intervenções que rompem com a passividade do cotidiano, transformando espectadores em agentes.

Como Muntadas aplica isso na exposição?

Totens espelhados e frases fragmentadas (ex.: “Para onde vamos?”) funcionam como dispositivos de desorientação calculada, convidando o público a refazer percursos e significados.

As imagens de ocupações urbanas em São Paulo, projetadas em telas de LED, evidenciam como a deriva pode revelar conflitos entre planejamento oficial e usos espontâneos (ex.: ocupações de prédios abandonados).

A ausência de roteiro fixo na mostra ecoa a ideia situacionista de que a cidade deve ser “lida” através do corpo, não de mapas institucionais.

Por que isso é relevante para a arquitetura hoje?

Crítica ao urbanismo neoliberal: A deriva expõe como cidades mercantilizadas (com shoppings, condomínios fechados e espaços hiper controlados) suprimem a dimensão lúdica e política do espaço público.

Diálogo com Lina Bo Bardi: A arquiteta já propunha espaços “inacabados” (como o Sesc Pompeia), onde o usuário completa a obra. A deriva radicaliza essa ideia, sugerindo que a verdadeira arquitetura é a que se reinventa no uso.

Ferramenta para projetos participativos: Urbanistas como Henri Lefebvre e David Harvey recuperam a deriva para planejar cidades a partir das demandas reais dos corpos, não de plantas distantes.

Exemplo prático na exposição

O tapete com a frase “Vida é edição” (no lado direito da Área de Convivência) não é um mero objeto de descanso, mas um convite a “reescrever” o espaço — lembrando que a cidade é um palimpsesto (texto raspado e reutilizado) onde camadas de história e poder se sobrepõem.

A deriva, em Muntadas, não é só um gesto artístico, mas um antídoto contra a arquitetura como instrumento de controle. Uma provocação para que arquitetos, urbanistas e cidadãos enxerguem a cidade além de sua função econômica, redescobrindo-a como campo de batalha e invenção coletiva.

Serviço:
Lugar Público — Muntadas
Visitação: até 10 de agosto de 2025
Terça a sábado, das 10h às 21h.
Domingos e feriados, das 10h às 18h. Grátis. Livre.
Local: Área de Convivência
SESC Pompeia
R. Clélia, 93 — Água Branca, São Paulo, SP
A exposição oferece recursos de acessibilidade. O agendamento de visitas mediadas de escolares pode ser feito através do e-mail: agendamento.pompeia@sescsp.org.br

Sobre Antoni Muntadas

Contato:
SESC Pompéia
(11) 3871-7700
https://www.sescsp.org.br/unidades/pompeia/

 

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