[Opinião] Mais uma cidade será destruída por uma barragem de mineração? / Por Paulo Afonso Luz

Barragem de Rejeitos da Gongo Soco

Parece que houve uma pequena mudança na estratégia de comunicação da VALE sobre os problemas das suas barragens. Desta vez, a empresa avisou e admitiu que um talude da cava da Mina do Gongo Soco irá se romper, pois ele está se movimentando cerca de 7 cm por dia, que é de fato um valor extremamente elevado.

Daí a empresa avisou também que esse evento poderá ocasionar a ruptura da Barragem de Rejeitos dessa mina, situada a cerca de 1 km do talude da cava. A VALE cita uma probabilidade de 15% para essa barragem sofrer colapso, mas não explica de onde vieram esses cálculos.

Se a barragem se romper, irá destruir parte da cidade de Barão de Cocais, que está situada abaixo e no caminho que a lama proveniente da ruptura irá passar. Será mais uma cidade afetada pelas operações de mineração em Minas Gerais!

Explicando o que pode ocorrer, nesse caso a ruptura do talude da cava da mina irá induzir vibrações na região, como acontece em um terremoto. Essas vibrações se propagam pelo terreno e podem causar uma ruptura da barragem por liquefação dinâmica. O material da barragem (solo + rejeito) se transforma em um líquido (lama) que corre pelo vale do rio, destruindo tudo que estiver no caminho (casas, sítios, prédios, etc).

Esse mecanismo de ruptura da barragem é semelhante ao que aconteceu nas Barragens de Brumadinho e Mariana. A única diferença é que nessas duas houve uma liquefação estática, por excesso de pressão interna da água no corpo da barragem. Agora, caso a ruptura venha a ocorrer, ela seria induzida por um pequeno sismo (vibrações).

Esperamos não aconteça! Mas este fato mostra mais uma vez a situação preocupante da segurança das barragens de mineração no Brasil!

Paulo Afonso Luz é engenheiro civil, com mestrado em engenharia de solos. Possui 40 anos de experiência profissional na área de Geotécnica, com ênfase em projetos de barragens, estradas, fundações, escavações, obras de contenção, canais e túneis. É professor de Engenharia do Mackenzie.

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