Arquitetura do Complexo Esportivo e Cultural do Colégio São Luís, proposta pelo Studio Barbour, traçou metas para oferecer flexibilidade de usos e conectou visualmente o espaço à cidade
O Colégio São Luís é um dos mais antigos e tradicionais colégios de São Paulo e tinha um déficit importante de quadras esportivas e de um espaço qualificado para shows, palestras e outros eventos culturais ligados à sua agenda institucional.
Como o ginásio então existente, um galpão da década de 50, fazia parte do complexo educacional, não havia potencial construtivo disponível no quarteirão que abrigava o colégio.
A solução deveria, portanto, ser dada sem o aumento de área construída, e a intervenção deveria ocorrer sem impactar o funcionamento da escola, bem como das lojas comerciais que ocupava as frentes para as ruas Haddock Lobo e Luís Coelho, nos Jardins.
Com arquitetura do Studio Barbour, a concepção traçou desde o início três metas importantes: oferecer a maior flexibilidade possível de usos para o espaço, transformar o complexo esportivo em uma área de convívio reintegrada à escola e propor uma tipologia nova de ginásio escolar.
Isso tudo, eliminando a caracterização típica de abrigo subterrâneo e reconectando visualmente o edifício e seus usuários com a cidade.
Segundo Alberto Barbour, arquiteto e fundador do Studio Barbour, o desafio tecnológico de demolição e reconstrução do Ginásio foi muito grande, e só foi possível devido a um planejamento realizado previamente, na verdade, um Plano Diretor que envolvia literalmente a escola toda, em seus 90 mil m².
“A implantação deste Plano Diretor durou de 2005 até a conclusão do ginásio, e neste intervalo, conseguimos fazer a escola passar de 1500 para 3000 alunos em capacidade, sem acrescentar um metro quadrado ao conjunto”, reforça o arquiteto.
A nova tipologia não encontrou muitas influências diretas, já que dificilmente complexos esportivos e espaços de shows acontecem em grandes fachadas transparentes.
Mas, desde o início, sabia-se que dadas as limitações construtivas e operacionais, a nova construção acolheria perfeitamente o desenho leve e elegante de uma estrutura metálica, num repertório de base modernista que é base do pensamento do Studio Barbour.
Uma estrutura metálica sustenta todo o conjunto, com fechamentos em grandes painéis de vidro com controle de radiação solar, complementados por painéis perfurados e brises metálicos ao redor, e uma laje impermeabilizada com um campo de futebol de grama artificial em sua cobertura.
As principais dificuldades diziam respeito à sua execução, já que a obra não poderia interromper as atividades do Colégio, bem como das lojas no pavimento térreo, imediatamente abaixo do ginásio, e aconteceria em uma área de circulação restrita de caminhões, e com um fluxo de pedestres na calçada por volta de 3 mil pessoas por dia.
A solução foi conceber projeto basicamente com elementos construtivos que pudessem ser produzidos fora do canteiro de obra, para que este fosse basicamente um centro de montagem mais rápido e silencioso.
Do ponto de vista da tecnologia, o Complexo Esportivo e Cultural do Colégio São Luís tem vários destaques, como a arquibancada retrátil que permite flexibilizar o uso das quadras, duplicando a área efetiva para treinos.
O planejamento acústico e térmico que viabilizou o uso confortável do espaço com ventilação e iluminação natural, sem incomodar a vizinhança e o próprio Colégio, e um sistema de reaproveitamento de águas pluviais de 60 mil litros, reutilizável no próprio ginásio.
Arquitetonicamente, é uma tipologia bastante original. O propósito de trazer as árvores (tipuanas centenárias) e suas sombras como parte importante do projeto cria áreas esportivas que rementem ao espaço aberto, ao ar livre.
Essa continuidade visual estabelece uma nova relação entre a escola e a cidade, onde os seus respectivos protagonistas se enxergam e reconhecem, preservando a privacidade dos alunos, mas instigando-os a conhecer o movimento das ruas em que vivem circundados grande parte de suas vidas.
O novo layout transformou o que era um prédio com uma quadra em um complexo esportivo com duas quadras cobertas, um campo de futebol e um salão de aulas de educação física e dança.
Isso foi viabilizado pela adoção de um layout diferente, concentrando toda a arquibancada de um lado só da quadra, para que o público também pudesse apreciar as árvores e a rua de fundo.
Complementando a solução, uma arquibancada retrátil automatizada criou a condição necessária para que quadra principal se converta em duas, para dias de treino regular.
A cobertura antiga do ginásio foi transformada em uma laje impermeabilizada com um campo de futebol de grama sintética, para que pudesse ser utilizado diariamente e, esta área recebeu um sistema de coleta de águas pluviais que consegue absorver até 60 mil litros de água a ser reutilizadas nos sistemas sanitários e na manutenção do próprio ginásio.
Ainda no campo da sustentabilidade, destacam-se as soluções especiais de ventilação e iluminação naturais, gerando uma economia significativa em termos de climatização e iluminação dos ambientes esportivos.
A iluminação artificial do ginásio acompanha e complementa a iluminação natural do conjunto, gerando economia e qualidade de iluminação ao complexo.
O projeto contempla uma infraestrutura completa de instalações audiovisuais, para que o espaço abrigue shows e eventos culturais.
A partir de uma varanda técnica, uma mesa de controle gerencia dispositivos cenotécnicos e de iluminação que permitem várias configurações diferentes.
Além de poder transformar o ambiente todo da quadra principal em um black-box cênico.
Quando todas as fases anteriores foram concluídas, o que incluiu a ampliação do restaurante da escola, acomodação de cursos extras, dentre outras soluções, foi possível embarcar nesse projeto e obra sabendo que o impacto no colégio e na vizinhança seria gerenciável, e o resultado tornaria o prédio uma referência.
Destaques
• O Ginásio de Esportes do Colégio São Luís é parte de um planejamento arquitetônico realizado e implantado ao longo de 12 anos em vários setores da escola, para melhor adequá-la aos seus princípios educacionais.
• A reorganização do setor esportivo demandava objetivamente o aumento da oferta de espaço para atividades de educação física – em uma obra sem acréscimo de áreas e sem interromper as atividades cotidianas da escola.
• Ocupando a mesma área do edifício anterior, demolido para a obra, o ginásio ampliou o número de suas quadras esportivas de uma para quatro, sendo duas em um campo gramado na laje de cobertura e outras duas que surgem a partir do recolhimento de uma arquibancada retrátil.
• A opção pela arquibancada retrátil em apenas um lado permitiu a liberação das fachadas externas para uma relação visual direta com a cidade e, principalmente, com as enormes árvores que circundam a esquina onde o edifício está implantado.
• O controle climático é uma das características principais do novo ginásio. A temperatura confortável e a renovação de ar dentro do edifício são garantidas pelo design das fachadas, com aberturas permanentes estrategicamente posicionadas para trazer ar fresco constantemente para as quadras e vidros que controlam a radiação solar recebida.
• A possibilidade de abrir as portas deslizantes na fachada norte do edifício ajuda a controlar a intensidade dos ventos ao longo das estações do ano.
• O desenho angulado dos brises permitem a ventilação constante sem expor os alunos em dias de chuva, além de diminuir a incidência da radiação solar dentro do edifício.
• A iluminação natural é abundante, filtrada por diferentes tratamentos dos vidros de cada fachada.
• Toda a água de chuva é recolhida em um reservatório de 60 mil litros e reaproveitada na própria manutenção do edifício.
• O conjunto todo recebeu tratamento acústico para acolher não somente eventos esportivos, mas também os eventos institucionais e culturais da escola.
• Apoiado por uma infraestrutura cenotécnica completa, o espaço tem seus tempos de reverberação e isolamento acústico calibrados para que qualquer uso pretendido tenha conforto e excelência, sem incomodar a vizinhança.
• Todo espaço criado foi concebido para incentivar o convívio, transformando quadras, arquibancadas e corredores em pontos de encontro e descanso, sempre integrados à referência visual da cidade.
Ficha:
Projeto: Complexo Esportivo e Cultural do Colégio São Luís / @colegio_saoluis
Arquitetura: Studio Barbour / @studio_barbour
Gerenciamento/Coordenação: IPE – Implantação Planejamento e Engenharia / @ipe_engenharia
Local: Colégio São Luís, Rua Haddock Lobo, 400, São Paulo, SP
Ano: 2016
Área: 9.062m²
Fotografia Nelson Kon / @nelsonkonfotografias
Contato:
Studio Barbour
https://arqbrasil.com.br/26782/studio-barbour/
https://www.studiobarbour.com.br/