Inêz Arantes, que se diz “expressionista” é, na verdade, uma colecionadora de impressões vividas transformadas em expressões do seu ser / Por Carmen S. G. Aranha

Membranas da Alma de Inez Arantes no CCCP

Todos os olhares se dirigem ao visitante da mostra, expressam sentimentos de Inêz no recolhimento do seu ateliê, durante os dois anos de pandemia. As figuras humanas, mulheres e homens, às vezes, híbridas, lançam olhares solitários e vazios, mas também, esperançosos.

Em Membranas da Alma, a artista nos oferece uma atmosfera metafísica do ver, pensar e do encontro com lugares vividos e perdidos.

As imagens nos reportam a territórios, paragens, países, a outro tempo: a mulher surpresa, o menino, atento e triste, os amantes, o padre, a mulher madura e o jovem renascentista … olhares, posturas, torções, cores e luzes e fatura nos indicam o fenômeno interrogado, ou seja, espaço e tempo vividos à sombra.

E assim, figuras femininas procuram nossa cumplicidade aos sentimentos calados, silenciosos, significativos. As poucas figuras masculinas sugerem as críticas a esses olhares:- o frade, a religião do Brasil profundo, o jovem, a força viril e, como numa janela renascentista, o jovem nos lança o olhar da tradição.

A artista Inêz Arantes nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1950. A pintura é a sua linguagem onde guarda todos os indícios e restos dos diálogos estéticos feitos com seus mestres, como Wesley Duke Lee.

Seu questionamento como pintora sempre esteve ao lado dos rumos da arte contemporânea sobre as mudanças na linguagem da pintura, escultura, do desenho.

Questiona porque, hoje, sua produção está ao lado dessas pesquisas artísticas, como as performances, instalações fotográficas, os vídeos e a própria arte na web.

Inêz não se intimida com essa nova dimensão da cultura. Em 2001, produziu a mostra Colagens, na Fundação Casa França-Brasil, onde evidencia origens de sua pintura das décadas de 1980 e 1990.

Desdobramentos dessa pesquisa plástico-visual, mais tarde, serão vistos em Imagens do Tempo, exposição de 2007, quando sua obra sai do plano bidimensional para penetrar o espaço e criar outra deflagração da profundidade de sua linguagem.

Na presente mostra, Membranas da alma, em cartaz a partir de 9 de setembro, no Centro Cultural Cecília Palmério, Inez transforma as intenções vividas, durante dois anos, em desenhos e pinturas, orquestrando heranças próprias, referências fundamentais da arte e o interrogar incessante sobre sua contemporaneidade como artista.

São trocas com o mundo, interrogações sobre a linguagem da arte, “desenhos-pinturas”, “desenhos sobre suportes pictóricos” e “pintura enquanto linguagem de pintura”.

Inêz Arantes ilumina, mais uma vez, sua poética de arqueologias escavadas no próprio ser:- origens, saberes, procedimentos vão revestindo-se de resíduos vividos.

Esses aspectos apresentam uma expressão significativa para a arte atual, cujas malhas deixam passar o olhar de Inêz Arantes que vê nos valores da cultura mineira uma brasilidade de essências, tessituras de um mundo que não pode ser desfeito. (Carmen S. G. Aranha).

Carmen S. G. Aranha – ​Professora Associada Sênior do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. MAC USP / Docente do Programa de Pós Graduação Interunidades em Estética e História da Arte PGEHA USP / Autora do livro Exercícios do Olhar – Conhecimento e Visualidade (UNESP, FUNARTE, 2008).

“Está no lugar que sempre esteve. Um excelente lugar. No território da melhor tradição modernista brasileira com pinceladas impressionistas e abordagens expressionistas. Sofisticada linguagem figurativa de expressão existencialista, novelle vague contemporânea. Uma dramaticidade profunda em seus múltiplos personagens angustiados que se projetam no outro…no ser humano em sua interminável procura de si mesmo.” (Xico Chaves, artista plástico)

 

Serviço:
Centro Cultural Cecília Palmério
(34) 3319-6600
Av. Guilherme Ferreira, 217
Uberaba/MG
CCCP