Projeto de reestruturação de espaço público no Pará, pretende viabilizar o uso público do local sob conceitos de sustentabilidade e que proporcionem o contato com a natureza
Nas margens do Rio Amazonas, uma cidade de pouco mais de 55 mil habitantes (segundo dados do IBGE – 2016) luta para ter de volta a proximidade que existia entre ela e seu grande símbolo, o Lago Jará. Juriti, no Pará, possui 62% de suas florestas nativas e conservadas, porém o crescimento populacional acelerado tem causado constantes transformações em seu território que afetam negativamente o ecossistema da região.
Nesse contexto, o Lago Jará aparece como umas das áreas mais carentes de regulação e proteção. Por isso, a ONG Conservação Internacional Brasil, que prestava serviços de assessoria para projetos de mitigação ambiental à prefeitura, abriu uma concorrência para a contratação de um projeto que reestruturasse o local.
O projeto elaborado pelo escritório Natureza Urbana, respeita a vocação natural da Amazônia, que é projetar uma estrutura harmônica com o ambiente sem parecer uma interferência antrópica. Precisaria ser sustentável, elaborado com materiais facilmente encontrados na região e que apresentasse eficiência energética, além de propiciar oportunidades de interação com a fauna e flora locais, com o mínimo de impacto no meio ambiente. Além disso, o projeto inclui uma área de gestão de resíduos responsável.
A empresa escolhida, o Natureza Urbana, é especialista na elaboração de projetos de equipamentos de uso público e sob estruturação de parcerias, que encantou com um projeto que visa a viabilizar a implantação de um uso público planejado nas margens do lago, com vistas a controlar o avanço da mancha urbana sobre seus limites e incentivar a conscientização da população de Juruti sobre a sua importância. Outra proposta é fomentar atividades que gerem renda local, além de incentivar o uso sustentável dos recursos naturais da região.
Na época, Ellen Serrão, que era coordenadora de projetos da Conservação Internacional Brasil (CI Brasil), apontou que, além de transmitir confiança e um portfólio que refletia a competência da equipe, a Natureza Urbana ainda apresentou a melhor proposta técnica e financeira. “Eles seguiram à risca o nosso desejo de que fossem levadas em consideração as premissas da bioconstrução. Também pensaram estrategicamente na utilização de material local, como a taboquinha”, explica Ellen.
O resultado é tão inovador que foi vencedor da categoria “Desenho urbano e arquitetura da paisagem”, da Premiação IABsp 2019, promovida pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo, um dos mais importantes do País no setor, que prestigia as propostas mais arrojadas e que promovam o diálogo entre a natureza, a sociedade, a economia e a cultura na produção da arquitetura e urbanismo.
De acordo com o sócio da Natureza Urbana, Pedro Lira, o projeto favorece benefícios ambientais, e reforça a ideia de uma Amazônia mais sustentável. “Além de potencializar o contato humano com a natureza, outro propósito é beneficiar a economia local.
A preservação do meio ambiente não só promove o turismo, mas também fomenta a condição de emprego e renda à comunidade do entorno”, comenta. “O conceito do projeto considera uma arquitetura enraizada na cultura e arquitetura local, buscando alcançar o máximo de conforto, considerando todo o ciclo de vida da edificação, incluindo seu uso, manutenção e reciclagem”, comenta Manoela Machado, também sócia e arquiteta da Natureza Urbana.
Infelizmente, a proposta ainda não saiu do papel, mas Ellen Serrão reflete o interesse de o atual prefeito da cidade, Manoel Henrique Gomes Costa, conseguir implantá-lo.
“Ainda existe uma expectativa de executar o projeto. Apesar de a CI Brasil não estar mais atuando em Juruti, a área do Lago Jará será decretada como ‘protegida’ e o grande sonho do atual prefeito e o de executar essa proposta como foi apresentada”, comemora.
O escritório responsável pelo projeto tem larga experiência na elaboração de projetos de concessão à iniciativa privada dos parques do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre eles o Parque Nacional de Itatiaia, Parque Nacional Aparados da Serra e Parque Nacional da Serra Geral, e também de outros projetos relevantes como dos estaduais do Mato Grosso, Parque Capivari (SP), Orla do Guaíba (RS), entre outros.
Essa é a primeira vez que a Natureza Urbana participa da Premiação IABsp, que tem a finalidade de identificar os avanços e desafios enfrentados na produção da arquitetura e urbanismo contemporâneos nacionais. Dividida em 17 categorias, o modelo proposto para este ano foi o de celebrar projetos executados e não executados e destacar aquelas que realmente fazem a diferença quanto à qualidade técnica, reflexão política, ética, poética, capacidade transformadora e pelos argumentos, teses, valores e princípios propostos.
Contatos:
Natureza Urbana
(11) 3031-0159
https://www.naturezaurbana.net/
IABsp
(11) 3032-3445
http://www.iabsp.org.br/