O e-book Patrimônio em Pedra faz uma viagem por diferentes regiões do País explorando os materiais usados em edificações e rochas encontradas em cidades brasileiras

Patrimônio pétreo brasileiro

As primeiras ferramentas produzidas pelo homem foram de pedra. Ela é tão significativa na história da humanidade que a manipulação de diferentes materiais definiram épocas, como Idade da Pedra, Idade Calcolítica, Idade do Bronze e Idade do Ferro.

E toda a importância dessas rochas pode ser conferida no livro Patrimônio em Pedra (363 páginas), lançado em julho no Portal de Livros Abertos da USP. O acesso é gratuito e aberto a todos os interessados.

A pedra é a protagonista da publicação que nos leva a uma viagem inicial pelos principais edifícios e monumentos que estão na lista de Patrimônio Mundial da Unesco. Das pirâmides do Egito à cidade de Petra, na Jordânia, é possível conhecer o tipo de rocha que deu origem a essas grandes obras.

Apesar da introdução internacional, o foco é trazer a riqueza e a diversidade das pedras brasileiras usadas em revestimentos de pavimentos e de paredes de patrimônios nacionais, além das rochas predominantes nas diferentes regiões do País.

Organizado pela professora Eliane Aparecida Del Lama, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, o livro conta com a colaboração de mais de 40 autores. São especialistas em Geologia, Arquitetura, Geografia, História, Turismo, Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental, além de estudantes de graduação em Geologia.

Eliane é geóloga e trabalha com patrimônio construído e geoturismo urbano, que identifica as pedras de edifícios e monumentos. Ela conta que o País possui uma grande geodiversidade, sendo que o Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Ceará se destacam como os maiores produtores.

“Nós temos uma diversidade de pedras muito grande, desde as mais comuns até as mais raras. Por exemplo, na Bahia, tem uma pedra que se chama Azul Macaúbas. Eu, particularmente, gosto muito dessa pedra, que é azul. Não é muito comum você ver pedra azul e não conheço outro lugar no mundo que tenha ela”, diz a geóloga.

A publicação está dividida em 20 capítulos. Eles percorrem as cinco regiões brasileiras apresentando o patrimônio pétreo de cidades como Manaus (AM), Belém (PA), São Luís (MA), João Pessoa (PB), Cabo de Santo Agostinho (PE), Salvador (BA), Cuiabá (MT), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), além dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.

No final, são apresentados ainda os tipos mais comuns de ensaios não destrutivos que podem ser realizados para o reconhecimento e identificação do estado de conservação da pedra.

“O grande objetivo do livro é a divulgação do patrimônio pétreo brasileiro. Muitos turistas vão passar por aqueles locais descritos no livro e é bacana saber se é um revestimento estrangeiro, por que é estrangeiro; o uso de muitos deles está ligado a a ciclos econômicos, como Manaus e Belém. O livro tem um pouco dessa diversificação não só de contar a história mais antiga, mas de falar de coisas mais recentes também”, explica Eliane.

Alguns trechos do livro Patrimônio em Pedra, sobre edificações famosas no País e cidades

Teatro de Manaus – Após inúmeras paralisações que atrasaram o cronograma de entrega da obra, a edificação do Teatro Amazonas foi inaugurada em 1886 e ainda preserva parte da arquitetura e elementos decorativos originais, com estilo renascentista e detalhes ecléticos. A maior parte do material usado na construção do teatro foi importada da Europa, como, por exemplo, as paredes de aço de Glasgow (Escócia), os lustres e o mármore Carrara italianos das estátuas e colunas, bem como as telhas envernizadas nas cores da bandeira republicana do Brasil que encobrem a magnífica cúpula, importadas da região francesa da Alsácia (página 88).

Basílica do Nosso Senhor do Bonfim – De todos os componentes construtivos de natureza lítica encontrados na Basílica do Bonfim, aqueles que merecem maiores destaques são a pavimentação e a escadaria do adro. O adro não deve ser destacado pelo seu porte, pouco avantajado, nem pela singularidade das rochas utilizadas, já que foram empregados, sem uma paginação precisa, arenito e variedades amarelas, rosadas e beges de calcário Lioz, tampouco pela engenhosidade das soluções construtivas, ainda que as vinculações alternadas das peças da escadaria demonstrem o grande domínio técnico dos construtores, mas pelo fato de polarizar a Lavagem do Bonfim, quiçá a maior e a mais expressiva manifestação da religiosidade do povo baiano (páginas 208-209).

Congresso Nacional – As fachadas cegas das torres são definidas principalmente pela cor branca do mármore de acabamento polido, além da paginação das placas assentadas verticalmente com juntas alternadas e a verticalização das empenas, pelas dimensões do edifício, em destaque na paisagem de Brasília. O mármore branco também está presente como pavimentação da grande esplanada que suporta as cúpulas e rampas de acesso, no piso e paredes do Salão Branco (páginas 232-233).

Convento da Penha – A história do Convento da Penha inicia-se em 1558 com a chegada do Frei Pedro Palácios, irmão leigo franciscano que iniciou a devoção à Nossa Senhora da Penha. O convento foi erguido no cume de um morro, onde aflora o granito Rio Aribiri. Esta mesma rocha foi utilizada na construção do complexo franciscano que tomou a forma atual no século XIX. É um dos cartões-postais do Estado e está presente no Brasão de Armas do Espírito Santo (página 271).

Obelisco da Memória – De 1814, monumento mais antigo de São Paulo, projetado por Daniel Peter Müller, Largo da Memória (Figura 17.1C). Era conhecido anteriormente como Pirâmide do Piques. O Chafariz do Piques foi construído mais tarde. Ao longo do século XIX, foi um dos pontos mais movimentados de São Paulo, para onde convergiam todos os caminhos. O chafariz foi extinto em 1872, e em 1919, Victor Dubugras redesenhou o largo em estilo neocolonial, incluindo um novo chafariz. Foi confeccionado um mosaico constituído de azulejos pintados retratando cenas antigas, e as escadas receberam características art nouveau. O obelisco é constituído pelo granito Itaquera e a escadaria pelo granito Cinza Mauá.

Curitiba – A principal rocha ígnea plutônica usada em Curitiba, com cores que variam de cinza a rosada, estrutura maciça e textura média a grossa, equigranular a levemente inequigranular, é proveniente do granito Anhangava. Este maciço, que se distribui no Morro do Anhangava e nas serras do Baitaca e da Boa Vista, pertence ao conjunto de intrusões graníticas rasas do tipo A, do fim do Ciclo Brasiliano e denominadas de Granitos da Graciosa por Gualda (2001) (página 341).

Eliane Aparecida Del Lama – Possui graduação em Geologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1990), mestrado em Geologia Regional pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1993) e doutorado em Geologia Regional pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998). Atualmente é professora associada da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Mineralogia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: preservação da herança cultural, mineralogia e petrografia.

Livros para todos – O Portal de Livros Abertos da USP, inaugurado em 2016, é mantido pela Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (Aguia), com a reunião e divulgação dos livros digitais acadêmicos e científicos publicados pelas unidades, institutos, centros, museus e órgãos centrais da Universidade, de autoria ou organização de professores e especialistas. Todas as obras estão em acesso aberto e texto completo sob licença Creative Commons 4.0.

Ficha
Patrimônio em Pedra
Eliane Aparecida Del Lama (Organizador). IGc/USP, 2021
ISBN-13 (15) 978-65-86403-02-2
Universidade de São Paulo / Instituto de Geociências
Livro está disponível on-line gratuitamente
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PDF – http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/631/562/2126-1

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Fonte: Hérika Dias / Jornal da USP / https://jornal.usp.br/