A Galeria Arte132 apresenta a mostra Alturas, individual inédita de Alex Flemming, com curadoria da crítica de artes visuais Angélica de Moraes

Alex Flemming na Arte132

Série ‘Alturas’, de Alex Flemming – Kwesi Osuwo Ankomah; Mariannitta Luzzatti; Nils Olav Boe; Edilson Viriato; Renné Gumiel; Eduardo Subirats (Detalhe)

Marcando a estreia da Galeria, o artista Alex Flemming, paulistano radicado em Berlim, apresenta 15 obras da série Alturas, realizada por ele desde 1988 até os dias atuais. São pinturas de grande escala nas quais o artista registra a altura corpórea de personalidades que ele admira e que visitaram seu ateliê.

Pessoas que representam os mais diversos campos da Cultura, brasileira e internacional, como Paulo Mendes da Rocha na arquitetura, Eduardo Galeano, Ignacio de Loyola Brandão e Milton Hatoum na literatura, Gilberto Gil, Chico Cesar e Michael Nyman na música, Marianne Sägebrecht, Fernanda Torres e José Wilker representando a arte cênica, os cineastas Rosa von Praunheim, Karim Ainouz, João Moreira salles e José Mojica Marins, os fotógrafos German Lorca, Frank Thiel, Tuca Vieira, Nair Benedicto e Eustáquio Neves, nas artes plásticas Amélia Toledo, Cristina Canale, Ayrson Heráclito, dentre outros.

Flemming convidou cada um deles a ir a seu ateliê – em São Paulo ou Berlim -, tirar os sapatos, ficar de costas para uma tela e assim registrar a altura do retratado em linhas verticais sob pinturas abstratas.

Alex Flemming na Arte132

Série ‘Alturas’, de Alex Flemming (Parte do conjunto)

O artista padroniza o tamanho das telas para elas serem sempre iguais e constituírem uma espécie de “Código de Barras da Cultura de nosso tempo”, na medida em que em cada tela há quatro, cinco ou seis personalidades retratadas.

“O que muda, e muito, com o decorrer das décadas, é o fundo. No início os fundos eram feitos com estêncil e depois, conforme passavam épocas e ciclos, eles se tornaram monocromáticos com pinceladas fortes”, explica Alex Flemming. As letras que formam os nomes das pessoas retratadas fazem parte integral da obra e são escritas criptograficamente, como o artista já fez na Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, sua obra pública mais conhecida.

Segundo Angélica de Moraes, “Podemos afirmar até que é quase um resumo de todos os caminhos por onde andaram seus pincéis. O quase fica por conta da prudência necessária à analise de obra tão fértil em experimentações e hibridizações de meios, processos e linguagens ao longo de mais de quatro décadas”, afirma a curadora.

Para Alex Flemming, o trabalho iniciado há mais de 30 anos sublinha a importância da diversidade. “Todos somos iguais e todos somos diferentes”, diz o artista. Autêntico cidadão do mundo, Flemming foi filho de piloto de aviação e graças à profissão do pai, pôde viajar muito, desde pequeno, e traz as contradições, conflitos e a diversidade dessa trajetória para sua produção artística.

A diversidade cultural, inclusive, é o valor celebrado na obra. Tirar os sapatos também tem carga metafórica: é o retorno ao chão, “de onde viemos e para onde vamos”, observa Flemming.

Ao medir as pessoas, o artista ainda chama atenção para uma questão central da História da Arte: no início da Renascença houve um caloroso debate para se saber qual era a altura de Cristo, a pessoa mais retratada na época. O caso foi “resolvido” pelo pintor italiano Rafael, ao medir a suposta coluna onde Jesus esteve preso e supliciado.

“Em Alturas, retrato concretamente a altura das pessoas do nosso tempo, com toda a carga artística que uma obra requer. A série é abstrata, mas também absolutamente real e concreta”, comenta Alex.

Angélica de Moraes, curadora da mostra, destaca o modo original com que Flemming trabalha uma outra proposta para o gênero retrato. “Coerente com o foco de sua obra, fortemente ancorada na figura humana, ele substitui a imagem do corpo pelo índice da presença: a régua que informa a altura do retratado”, finaliza.

Telmo Porto – “Temos particular interesse na produção menos conhecida dos mais reconhecidos pelo circuito brasileiro das artes e, também, na produção dos consagrados pela história da arte brasileira, mas que demandam revisão. Contudo, a Arte de um país e de um período não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do Mundo e do Homem num momento. Pretendemos reincluir nomes no cenário das galerias e instituições, sempre com orientação curatorial e escolhas motivadas”, explica o proprietário da galeria.

Engenheiro por formação, Porto lecionou na Poli-USP por 40 anos. Mas a paixão pelas artes começou cedo e em família. Aos 13 anos, pediu ao avô para visitar o ateliê de Iberê Camargo, que na época morava no Rio de Janeiro: “lembro como se fosse ontem meu deslumbramento diante dos Carretéis do artista”, ele afirma. “As artes plásticas entraram em minha vida bem antes da Engenharia”, completa Telmo, que é também conselheiro e patrono dos mais importantes museus de São Paulo.

Instalada em uma casa do segundo Modernismo Paulista construída em 1972 e assinada pelo arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, a Arte132 passou por reforma recente, realizada pelo Escritório Piratininga, que manteve as belas linhas arquitetônicas do imóvel, adaptando os espaços para receber exposições e outras atividades. “A ideia é ter um espaço múltiplo voltado à arte, com encontros para discussões e cursos com especialistas sobre arte, história, literatura, música e interface entre humanidades e produção científica. Haverá, ainda, recitais de música, especialmente para piano ou canto”, completa Telmo Porto.

Alex Flemming – Alex Flemming (São Paulo SP 1954). Freqüenta o Curso Livre de Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1972 e 1974, e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP até 1976. Cursa serigrafia com Regina Silveira e Julio Plaza, e gravura em metal com Romildo Paiva, em 1979 e 1980. Na década de 1970, realiza filmes de curtas-metragens e participa de festivais.

Em 1981, viaja para Nova York, onde permanece por dois anos e desenvolve projeto no Pratt Institute, com bolsa de estudos da Fulbright Foundation. Volta ao Brasil onde participa de várias exposições, viajando frequentemente a Berlim, para onde se muda permanentemente em 1991. É professor da Kunstakademie de Oslo, na Noruega, entre 1993 e 1994. Em 1998, realiza painéis em vidro para a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas anônimas, às quais sobrepõe letras coloridas de trechos de poemas brasileiros.

A representação do corpo humano e os mapas de regiões em conflito estão na série Body Builders (1997-2002). Em 2002, são publicados os livros “Alex Flemming”, pela Edusp, organizado por Ana Mae Barbosa, e “Alex Flemming, uma poética…”, de Katia Canton, pela editora Metalivros; em 2005 o livro “Alex Flemming – Arte e História”, de Roseli Ventrella e Valéria de Souza, pela Editora Moderna; em 2007 “Alex Flemming – Obra Gráfica” por Mayra Laudanna pela Edusp; e em 2012 “Alex Flemming” de Angélica de Moraes pela editora Cosac Naify; em 2016 “Alex Flemming – RetroPerspectiva” Ed Martins Fontes, catálogo da retrospectiva no Museu de Arte Contemporanea MAC/USP e em 2017 “Alex Flemming” Belo Horizonte, catálogo da retrospectiva no Palàcio das Artes em Belo Horizonte com curadoria de Henrique Luz.

Em 2020 com a pandemia causada pelo COVID-19 Alex Flemming, em uma ação com a Companhia do Metrô de São Paulo ressignifica a sua mais conhecida obra pública, a estação Sumaré do Metrô. Para conscientizar a população sobre o uso de máscaras em espaços públicos, o artista aplica formas pentagonais de cores vibrantes que remetem à máscaras sobre os já conhecidos retratos da estação.

Serviço:
Alturas, de Alex Flemming
Galeria Arte132
Curadoria: Angélica de Moraes
Período expositivo: Até 16 de outubro de 2021
Horário de visitação: Segunda à sexta-feira, das 14h às 19h e sábado, das 11h às 17h
Classificação Indicativa: Livre

Contatos:
Galeria Arte132
Av. Juriti 132, Moema, 04520-000, São Paulo (SP)
(11) 5054-0357
https://arte132.com.br

Alex Flemming
https://alexflemming.com.br