Coletânea homenageia mestre da crítica literária, com textos de intelectuais brasileiros e estrangeiros

Antonio Candido

Este livro é uma homenagem a um dos maiores intelectuais brasileiros. Crítico literário, sociólogo e militante socialista, Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017) atravessou o século XX e adentrou pelo XXI inspirando sucessivas gerações. Em seus livros, aulas, conferências e atividades políticas, ele revelou o Brasil aos brasileiros, sem ufanismos nem complexos de inferioridade.

Formação da literatura brasileira (1959) e Os parceiros do Rio Bonito (1964), seu estudo sobre o modo de vida caipira, se tornaram clássicos de nascença. “Dialética da malandragem” (1970), ensaio sobre Memórias de um sargento de milícias, é considerado um marco na análise das relações entre forma literária e processo social. Com a mesma inteligência — não só excepcional, mas incansável — ele escreveu mais de vinte livros, sempre reeditados.

Aqui, trinta e sete intelectuais de várias gerações e nacionalidades percorrem toda a extensão da obra de Antonio Candido e revelam sua coerência interna para além do que outros volumes congêneres deixavam entrever. Completam o livro reproduções de dedicatórias assinadas por Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Mário e Oswald de Andrade, além de um inédito do homenageado, “Como e porque sou crítico”.

Textos de Francisco Alvim, Adelia Bezerra de Meneses, Alfredo Bosi, Beatriz Sarlo, Davi Arrigucci Jr., Flávio Aguiar, Roberto Schwarz, Walnice Nogueira Galvão, Šárka Grauová, José Miguel Wisnik, Ana Paula Pacheco, Michael Löwy, Roberto Vecchi, Vilma Arêas, Grínor Rojo, Mario René Rodríguez Torres, Pablo Rocca, Rita Chaves, Alexandre Pilati, Candace Slater, Howard Becker, Irenísia Torres de Oliveira, Ismail Xavier, Luiz Carlos Jackson, Maria Augusta Fonseca, Antonio Arnoni Prado, Celso Lafer, Edu Teruki Otsuka, Danielle Corpas, Ettore Finazzi-Agrò, Iná Camargo Costa, Iumna Maria Simon, Luiz Felipe de Alencastro, Paulo Eduardo Arantes, Raúl Antelo, Salete de Almeida Cara e Silvia L. López.

Os organizadores
Maria Augusta Fonseca é professora sênior do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP. Autora de Palhaço da burguesia (1979), Oswald de Andrade: biografia (1990) e Por que ler Mário de Andrade (2013).

Roberto Schwarz é professor aposentado da Unicamp. É autor de, entre outros, A sereia e o desconfiado (1965), Ao vencedor as batatas (1977), O pai de família e outros estudos (1978), Que horas são? (1987), Um mestre na periferia do capitalismo (1990), Duas meninas (1997), Sequências brasileiras (1999) e Martinha versus Lucrécia (2012).

Texto de orelha – “Gostaria muito de ler uma crítica de Antonio Candido. Ele escreveu?” Em junho de 1946, vivendo na Suíça, Clarice Lispector envia uma carta a uma de suas irmãs em busca de notícias sobre seu segundo romance, recém-publicado. Dois anos antes, o jovem crítico havia saudado Perto do coração selvagem, a estreia de Clarice. “A intensidade com que sabe escrever e a rara capacidade de vida interior poderão fazer desta jovem escritora um dos valores mais sólidos e, sobretudo, mais originais da nossa literatura.” Cedo, Antonio Candido passou a colaborar para jornais, colocando à prova seu juízo certeiro diante de outras estreias decisivas, como as de João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa. Mais tarde, já como professor, realizou balanços iluminadores das obras de nossos primeiros modernistas, como Manuel Bandeira, Mário e O swald de Andrade, Graciliano Ramos, Drummond etc. Testemunhou o período em que conviveram as melhores gerações de nossa literatura. E esteve à altura dele. Na mesma época, havia também um sopro novo nas artes plásticas, na música e na arquitetura. Surgiram também a escola pública laica e as primeiras universidades. Esse ambiente cultural inédito aflorou com a Revolução de 1930, movimento de fundo que transformou um país agrário em industrial e, no plano político, deslocou a ênfase nos interesses das antigas oligarquias rurais para os de uma crescente massa de trabalhadores urbanos.

A trajetória de Antonio Candido esteve em sinergia com todas essas correntes, combinando a formação em ciências sociais a um cultivo permanente da literatura. Num país em que — sinal de provincianismo — o dernier cri das modas internacionais é sempre adotado com avidez cega, ele criou abordagens próprias sem fazer praça de método. Formação da literatura brasileira (1959) descreve as dificuldades, ironias e superações peculiares de um processo cultural periférico, evitando um alinhamento automático com as periodizações dos países centrais. Com “Dialética da malandragem” (1970), análise das Memórias de um sargento de milícias,Antonio Candido inaugurou entre nós um novo estilo de crítica, no qual forma literária e processo social iluminam-se reciprocament e. O empuxo de 1930 permitiu ainda que a pesquisa universitária se voltasse para as camadas baixas da sociedade brasileira e, nesse esforço conjunto, Antonio Candido escreveu Os parceiros do Rio Bonito (1964), estudo clássico sobre o modo de vida caipira. Para ele, um movimento natural que veio ao encontro de sua antiga militância por um socialismo democrático. Antifascista e precocemente antistalinista, essa posição inicialmente minoritária adquiriu densidade histórica quando, anos mais tarde, um movimento de auto-organização dos trabalhadores deu origem ao PT. Entre seus intelectuais fundadores, ao lado de Mário Pedrosa e Sérgio Buarque de Holanda, esteve Antonio Candido.

Por tudo isso, ainda jovem e até a beira dos cem anos, ele foi adquirindo um prestígio sem igual entre gerações sucessivas de escritores, intelectuais, alunos e simples leitores. Desde 1979, quando foi publicado Esboço de figura, sua obra tem sido comentada em volumes coletivos dedicados especialmente a ela. Nos últimos anos, é tema crescente em projetos de pós-graduação entre as novas gerações. Neste livro, a variedade de enfoques e tons busca dar conta de uma inteligência excepcional. Em alguns textos surgem, naturalmente, o professor e o militante político de carne e osso, em vivas lembranças sobre seu modo de ensinar, de orientar e de ser solidário. No conjunto, porém, este volume revela que seus congêneres publicados anteriormente prepararam o terreno para uma assimilação mais funda e uma visão mais integrada da obra de Antonio Candido.

Assim, livros aparentemente despretensiosos como Na sala de aula (1985), analisado por Iumna Simon, ou O albatroz e o chinês (2004), por Celso Lafer, adquirem um novo estatuto. Outro conjunto de ensaios mostra quão fecundo pode ser o raciocínio presente em Formação da literatura brasileira para pensar situações semelhantes em países periféricos. Em outro ainda, aprendemos que a concepção de realismo/naturalismo para Antonio Candido vai muito além do mero registro de fatos. Surpreendente, porque apontando para o futuro, é a leitura que Paulo Arantes faz do ensaio “Quatro esperas”, dele tirando um prognóstico para o capitalismo no século XXI. Alguns dos textos aqui reunidos sugerem ainda o que, ombro a ombro com os melhores do seu tempo, esse intelectual de sete fôlegos poderia ter realizado fora dos quadrantes da literatura bra sileira. Referindo-se a I Malavoglia, de Giovanni Verga, Alfredo Bosi afirma que na bibliografia italiana nada é comparável “à complexidade da abordagem de Antonio Candido”. Nesse sentido, Walnice Nogueira Galvão imagina um estudo virtualmente incubado em umas poucas páginas do crítico sobre Marcel Proust, nada menos que autor preferido de Antonio Candido e assunto que ocupava muitas prateleiras de sua biblioteca. Como se cem anos não tivessem sido suficientes.

Ficha:
Antonio Candido 100 anos
Organização de Maria Augusta Fonseca e Roberto Schwarz
496 p. – 16 x 23 cm
ISBN 978-85-7326-717-4
2018 – 1ª edição
Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
R$ 82,00 – Comprar

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