Exposição PopPoor de Jaca questiona ver arte

Exposição PopPoor coloca arte no chão e desafia o olhar convencional: uma experiência imersiva que questiona os limites entre obra, espaço e espectador

A exposição PopPoor, do artista Jaca, está na Galeria Choque Cultural até 24/05, com curadoria de Lui Tanaka. As obras estão dispostas no chão, desafiando o tradicional cubo branco. O trabalho dialoga com a Pop Art e a Arte Povera, usando cores vibrantes e objetos ressignificados. Uma reflexão sobre como vemos a arte hoje.

Uma Subversão do Olhar

Até 24 de maio, a Galeria Choque Cultural, em São Paulo, recebe a exposição PopPoor, do artista multimídia Jaca, natural de Porto Alegre e radicado na capital paulista. Com curadoria de Lui Tanaka, a mostra reúne pinturas recentes e trabalhos inéditos, muitos deles guardados no ateliê do artista e nunca expostos.

A disposição das obras desafia a convenção do cubo branco: as telas estão posicionadas no chão, em horizontal, criando um percurso que convida o público a repensar sua relação espacial com a arte.

Um Neologismo que Dialoga com a História da Arte

O título PopPoor é um neologismo criado por Jaca, mesclando referências à Pop Art britânica e norte-americana — como a de Andy Warhol — e à Arte Povera italiana, movimento dos anos 1960 que questionava a mercantilização da arte e valorizava materiais brutos, como madeira, pedra e terra.

Essa dualidade se reflete no trabalho do artista, que incorpora símbolos do passado e do presente, além de elementos oníricos, em composições que desafiam a linearidade temporal.

Processo Criativo e Resinificação de Objetos

Diferente da metodologia tradicional, Jaca inicia suas obras pelo desenho, para só depois aplicar tinta e detalhes, decidindo ao final se a peça será finalizada ou descartada. Seu uso de cores extrapola as primárias, explorando tons terrosos e vibrantes em diálogo com a cultura popular brasileira. Além das telas, o artista incorpora objetos encontrados — prática que remete à Arte Povera —, transformando resíduos urbanos em arte e questionando os limites entre o ordinário e o estético.

Curadoria que Desafia a Verticalidade do Olhar

A curadora Lui Tanaka propõe uma experiência imersiva ao dispor as obras no piso, invertendo a lógica expositiva tradicional. “Com os olhos voltados cada vez mais para as telas dos celulares — e, consequentemente, para o chão —, é preciso subverter o modo de exibir arte.

O espectador deve ser guiado pelo próprio olhar, não pela imposição das paredes da galeria”, explica. A proposta reforça uma crítica ao estatuto hierárquico dos espaços expositivos, privilegiando a interação direta com as obras.

#Inovação na Disposição Espacial

A decisão de posicionar as telas no chão rompe com a convenção museológica do cubo branco, que historicamente privilegia a parede como suporte hegemônico. Essa estratégia curatorial não só desafia a ergonomia do olhar, mas também ressignifica o espaço expositivo como um campo de experimentação, onde o espectador é ativo na construção do percurso visual.

#Intertextualidade e Hibridismo de Linguagens

A obra de Jaca opera numa zona de fronteira entre o popular e o erudito, apropriando-se de ícones da cultura de massa e materiais pobres. Seu método — que oscila entre o planejado (desenho prévio) e o contingente (decisão final de descarte) — reflete uma estética do processo, onde o acidente e a deliberação coexistem.

#Crítica Material e Sustentabilidade Simbólica

A incorporação de objetos descartados ecoa a ética da Arte Povera, mas com um recorte contemporâneo: ao elevar detritos urbanos à categoria de arte, Jaca questiona o consumo e a efemeridade na sociedade atual. A paleta terrosa, aliada a tons vibrantes, sugere uma síntese entre o orgânico e o artificial, reforçando seu diálogo com a identidade brasileira.