Excessos na rede aérea de distribuição levantam debate sobre a paisagem urbana.

Por que tantos fios e cabos nos postes?

Embora passem na maioria das vezes despercebidos dada a naturalidade em que se encontram na paisagem urbana, talvez em algum momento você já tenha se perguntado porque existem tantos fios e cabos nos postes não só das cidades brasileiras, mas também por todo o mundo.

São tantas ligações e conexões que fica difícil concluir onde começam e aonde terminam, causando uma variedade de poluição visual que impacta a já sobrecarregada paisagem urbana, especialmente a das regiões metropolitanas.

A região intermediária dos postes é a mais afetada por esses complexos emaranhados porque por ali passam os fios e cabos de telecomunicações das operadoras e provedores de internet, brigando por espaço numa faixa de 50 cm de altura alugada pelas concessionárias de energia.

A distinção com a rede de energia é importante: esta fica na parte superior para diminuir a possibilidade de acidentes, já que a tensão pode chegar 13.800 volts. Os cabos de telecom por outro lado não dão choque espontaneamente, por isso estão abaixo, mas nem por isso estão imunes a riscos: os modelos com condutores metálicos podem conduzir a eletricidade em caso de descargas atmosféricas.

As normas técnicas, as agências reguladoras e as concessionárias estabelecem um número máximo de pontos de fixação, mas o que acontece na prática é a instalação muito maior de pontos, passando até mesmo cabos clandestinos, sem qualquer autorização para estarem ali.

No passado a área de telecomunicações era de competência estatal e havia uma limitação na oferta de serviços. Havia menos cabos de telecomunicação nos postes, mas não havia linhas telefônicas suficientes para atender a demanda. Com a privatização do setor, muitas empresas passaram a trabalhar nesse mercado instalando novos cabos muitas vezes sem retirar os antigos.

“O quadro que temos hoje é desafiador: muitas empresas, cada uma com sua própria rede e seus próprios cabos, tentando atingir o mesmo público em uma determinada área. A explosão da demanda e a corrida tecnológica empurram as operadoras e os provedores a melhorarem seus serviços e obriga-os a instalar novos cabos”, explica o especialista em aplicações do Grupo Prysmian, Ivan Arca Uliana. “Um bairro adensado como a Vila Olímpia em São Paulo, por exemplo, pode ter até 70 operadores brigando por espaço”, completa.

A solução mais apontada para diminuir o excesso nos postes é enterrar a rede, mas existe um motivo que explica por que muito pouco dos mais dos 140 mil km de cabos distribuídos em 800 mil postes de uma cidade como São Paulo adotam essa modalidade: o alto custo.

“O enterramento da rede tem suas vantagens tecnológicas desde que bem projetado e executado. Porém é uma modalidade de infraestrutura que pode custar até 20 vezes mais para implantar. Existem dezenas ou centenas de operadoras que já montaram suas próprias redes de distribuição investindo muito tempo e dinheiro nelas. Elas precisariam investir novamente e refazer de uma hora para outra toda sua rede no subsolo e abandonar as redes aéreas antigas. A conta não fecharia e isso infelizmente resultaria em aumento de tarifa para o usuário”, analisa Uliana.

Enquanto o enterramento total do sistema ainda é economicamente inviável, uma forma de compensar a quantidade de cabos poderia ser a criação de única grande rede compartilhada por todas as empresas, que pagariam pela utilização de uma parte do cabo, usando a tecnologia já existente a favor da paisagem urbana.

“Hoje podemos colocar em um microcabo óptico, com cerca de 30mm de diâmetro, milhares de fibras ópticas cada uma delas com capacidade de atender centenas de usuários. A operadora ‘A’ alugaria 100 fibras ópticas desse cabo para atender um bairro X. A operadora “B” alugaria 300 fibras para atender o mesmo bairro e assim por diante. Um único cabo, em uma mesma área, atendendo os mesmos usuários e sendo compartilhado pelas mais diferentes operadoras e provedores”, exemplifica Uliana.

A longo prazo, as autoridades e as empresas poderiam discutir uma legislação que ordene melhor as redes, tanto elétricas como de telecomunicações. Um exemplo dessa organização poderia ser a padronização nacional de que novas ruas, avenidas, bairros, condomínios, entre outros, só pudessem ser criados com a infraestrutura de telecomunicações e elétrica subterrâneas.

Em um segundo momento, esse debate poderia resultar em um prazo para que cada concessionária e cada operadora enterrasse gradualmente seus cabos onde eles são aéreos hoje, assegurando um planejamento mais eficiente pela mudança de infraestrutura.

“O avanço tecnológico é impressionante e estamos às portas do 5G, mas tudo isso vai inflar a demanda e pressionar ainda mais a rede de distribuição se as autoridades e o mercado ignorarem esse debate. Discutir o excesso de cabos nos postes é muito mais do que tratar da poluição visual das cidades: é definir como queremos que elas sejam no futuro”, completa o especialista do Grupo Prysmian.

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