Descubra a trajetória pioneira de Anna Bella Geiger na arte brasileira, na exposição do Sesc Copacabana até 8 de setembro de 2024

Anna Bella Geiger inovação e subversão na gravura

Anna Bella Geiger / Sem título 1965 / gravura em metal / água tinta /água forte /relevo 30×29 cm (Detalhe) Foto Arquivo

A exposição ‘Anna Bella Geiger – Entre o Relevo e o Recorte’ celebra os 75 anos de carreira da artista, pioneira na gravura e na abstração no Brasil. Através de 29 obras marcantes, a mostra revela sua experimentação com técnicas inovadoras e desafiadoras da época, como o recorte da chapa de metal. Visite a exposição e mergulhe no universo multifacetado de Anna Bella Geiger.


O Sesc Copacabana apresenta a exposição “Anna Bella Geiger – Entre o Relevo e o Recorte”, até 8 de setembro de 2024. Com curadoria de Ana Hortides, a mostra é realizada pela Agência Dellas e produzida pela Atelier Produtora, celebrando os 75 anos de carreira da artista, que completa 91 anos.

A Trajetória de Anna Bella Geiger

Anna Bella Geiger, uma das mais influentes artistas brasileiras do século XX, é destacada por sua abordagem inovadora e multifacetada nas artes visuais. A exposição foca nos primeiros anos de sua carreira, quando a jovem Geiger começava a delinear sua assinatura artística, explorando gravura e abstração de maneira não convencional.

Obras e Técnicas Inovadoras

A mostra reúne 29 trabalhos fundamentais de Anna Bella Geiger, datados entre 1960 e 1966. Dentre eles, destaca-se “Sem título” (1961), obra vencedora do 1º Concurso Interamericano de Grabado, na Casa de las Americas, em Havana, Cuba.

A exposição revela a ousadia de Geiger ao explorar a técnica de recorte da chapa de metal na gravura, desafiando as convenções da época.

Contexto Histórico e Influências

Anna Bella iniciou seus estudos no ateliê de Fayga Ostrower, uma figura influente na sua formação. Posteriormente, integrou o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, onde aprofundou suas experimentações. A exposição contextualiza a produção artística de Geiger dentro do cenário artístico dos anos 60, destacando suas influências e o ambiente de inovação que permeava suas criações.

Evento de Abertura e Palestra

A abertura da exposição contou com uma visita guiada pela própria artista e pela curadora Ana Hortides.

No dia 3 de setembro, será lançado o catálogo da mostra, seguido por uma palestra com a participação de Anna Bella Geiger, oferecendo uma visão aprofundada sobre suas técnicas e influências.

Anna por Anna

O Abstracionismo é considerado internacionalmente o último “ismo” da história da Arte Moderna.

Anna Bella Geiger / Fotografia Rubber Seabra

Anna Bella Geiger / Fotografia Rubber Seabra

“Lembro-me bem de quando cheguei a uma compreensão mais plena e profunda dos princípios abstracionistas na minha própria obra em meados do ano de 1952.

Estávamos num momento cultural em que alguns e algumas de nós, artistas, vínhamos buscando, individualmente, radicalizar essas transformações, fosse aqui no Brasil, como internacionalmente.

Isso após uma longa iniciação, desde 1949, no ateliê da artista Fayga Ostrower, através de incansáveis estudos e pesquisas baseados nos princípios cubistas de Pablo Picasso e Georges Braque, assim como nos exercícios propostos nos Notebooks de Paul Klee na Bauhaus. Incluiria aí também estudos sobre o uso da cor e da composição estrutural na gravura japonesa do século XVIII e na complexidade da escultura africana em suas diversas regiões.

Naquele turbilhão de ideias, comecei a encontrar soluções próprias, individuais, em meus desenhos, guaches e gravuras abstratas. Nessa época, alguns de nossos pioneiros na área gráfica, como Osvaldo Goeldi, Lasar Segall, Lívio Abramo, inclusive a própria Fayga Ostrower (até 1952), eram artistas figurativos, não viam o mundo somente do ponto de vista estético, mas sim sob os seus aspectos sociais e humanos.

Havia um conflito, um verdadeiro tabu, na questão da eliminação da figura humana na Arte. As desavenças eram profundas, e, no Brasil, ainda tínhamos uma questão extra-artística, como a do regionalismo ou do realismo.

As questões desenvolvidas na minha obra, eram denominadas no vocabulário internacional como abstração informal ou lírica, com certa identidade com os pintores da Escola de Nova Iorque e de Paris, bem como as levantadas pela Fayga, Iberê Camargo, Yolanda Mohalyi, entre outros.

Desses artistas internacionais, podem ser citados, por exemplo, Franz Kline, Willem De Kooning, Robert Motherwell, Philip Guston, Jackson Pollock, assim como o franco-alemão Hans Hartung e o espanhol Antoni Tàpies.

Em 1965, a minha própria concepção sobre a arte abstrata começa a se radicalizar, assumindo recortes e relevos na sua composição. É o caso de duas gravuras sem título, que diferem das outras anteriores porque recorto uma forma trapezóide na própria placa de latão, e assim, o relevo surge impresso no papel branco, vazio.

É interessante notar que, apesar de não termos tido contato naqueles mesmos anos com os artistas abstratos internacionais, principalmente os da Escola de Nova Iorque, ocorreu uma certa concomitância com a obra internacional numa identidade de princípios, por exemplo, por certas posições políticas semelhantes do pós-guerra, culminando numa semelhança formal.

Não devemos nos esquecer que a arte abstrata surge também em consequência da 2ª Guerra Mundial e adota um pensamento baseado na filosofia existencialista, do individualismo, do conceito de liberdade individual em Jean-Paul Sartre. Em fevereiro de 1953, organizou-se a Primeira Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, da qual participei com três obras.

Podemos dizer que ali, pela primeira vez no Brasil, os artistas abstratos marcariam posição contra as principais tendências da arte no país, compreendidas pela primeira vez do ponto de vista plástico-formal e não a partir de questões extra-artísticas, como o regionalismo e o realismo social.

Já sobre o abstracionismo na minha obra, ele se desenvolveu até 1965, período em que participei de inúmeras Bienais Internacionais, como a de São Paulo (de 1961,1963,1965 até o ano de 1967), quando eu aderi ao boicote contra o AI-5[1]. Ao longo de 1962 a 1966, integrei exposições, como o 1º Concurso Interamericano de Grabado, em Havana, Cuba, 1962, onde recebi o primeiro e único Prêmio “Casa de Las Américas”; o Brazilian Art Today, no Royal College of Art, Londres, em 1965; a 1ª Bienal Latino-Americana de Grabado, Santiago do Chile, em 1966, da qual recebi menção honrosa; a 1ª Exposição Jovem Gravura Nacional, do programa Jovem Arte Contemporânea (JAC), do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de São Paulo no qual ganhei o 1º Prêmio de gravura. Além dessas, participei de exposições individuais e coletivas, como a EL ARTE en America y España, em 1963, no Instituto de Cultura Hispânica, Madrid, entre outras. Em 1978, fui convidada por Paulo Sérgio Duarte, da recém-criada FUNARTE, para escrever uma publicação sobre o Abstracionismo no Brasil, que intitulei de Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos 50, publicada em 1987. Na ocasião, convidei o crítico de arte Fernando Cocchiarale para colaborar no livro. ” / Anna Bella Geiger.

Anna de Ana

Anna Bella Geiger e Ana Hortides / Img.SescRio

Anna Bella Geiger e Ana Hortides / Img.SescRio

A mostra propõe uma viagem no tempo para o início da produção de uma das maiores artistas brasileiras, a carioca Anna Bella Geiger. Apresentando, pela primeira vez ao público, um recorte considerável dos seus primeiros trabalhos abstratos realizados em gravura e desenho ao longo da década de 1960, sendo muitos deles nunca expostos anteriormente.

Anna Bella, ainda uma jovem artista com os seus 16 anos, em 1949 e ao longo dos primeiros anos da década de 1950, inicia os estudos em arte frequentando o ateliê da artista Fayga Ostrower no Rio de Janeiro, de quem Lygia Pape também fora aluna no mesmo período.

Ambiente que lhe proporcionou uma aproximação com a produção de arte brasileira e estrangeira por meio de exercícios práticos e discussões teóricas. Já em 1953, participou com grandes nomes da época, como Lygia Clark, Antônio Bandeira, Abraham Palatnik e Ivan Serpa, da 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, que se deu no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, reunindo a vanguarda dos artistas das mais diversas tendências do abstracionismo brasileiro.

Ao longo dos anos 1960, a artista começa a frequentar o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, quando se detém à produção, aprofundamento e experimentação plástica e conceitual em torno do processo de produção das suas gravuras abstratas.

Radicalizando, por volta de 1965, o seu processo criativo por meio do corte da chapa de metal da gravura e assumindo nas suas composições a ideia do relevo e do recorte de forma expressiva e experimental. Logo, podemos observar que o espaço vazio, predominantemente o do recorte, se faz presente na sua impressão gráfica. Apontando, assim, para um processo artístico arrojado, de uma artista que, já no início de sua trajetória, explora a técnica e a subverte.

Uma pioneira nos campos da gravura e, também, da videoarte brasileiras por sua ousadia e experimentalismo da época. Além de uma educadora fundamental que esteve sempre em companhia e colaboração com os seus estudantes ao longo dos processos artísticos e educacionais que propunha e desenvolvia.

Anna Bella contribuiu para a formação das gerações mais recentes de artistas e curadores da cena contemporânea carioca. Ministrou aulas como professora e compôs o conselho administrativo do MAM Rio nos anos 1970, promovendo cursos, encontros e acompanhamentos com artistas dentro e fora da instituição.

Posteriormente, nas últimas décadas e até hoje, promove encontros e cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no Hoger Instituut Voor Schone Kunsten, na Bélgica.

A artista é autora e responsável pela organização da mais relevante publicação sobre arte abstrata que conhecemos até a atualidade.

O livro “Abstracionismo Geométrico e Informal: a Vanguarda Brasileira nos anos 50” foi realizado em pesquisa conjuntamente com o curador e crítico de arte Fernando Cocchiarale e lançado pela editora da Funarte em 1987.

Traçando um panorama dos primórdios da vanguarda abstrata geométrica e informal no Brasil, do pós-guerra até a retomada da figuração com a Nova Objetividade, a publicação se estrutura por meio de uma introdução, entrevistas e textos selecionados. Contribuindo, desse modo, por seu teor histórico e didático para a difusão e fortalecimento das questões fundamentais do debate em torno do abstracionismo no período.

Feita essa nossa viagem no tempo, pudemos percorrer parte da sua produção em gravura e desenho, nos surpreender com o seu processo de trabalho e pesquisa, vislumbrar a sua atitude audaz e empírica.

Hoje, com seus 75 anos de carreira e ativa no campo da arte e da educação, celebramos o legado da artista Anna Bella Geiger, que com sua genialidade e coragem, transformou os rumos da arte e se tornou uma inspiração para todos nós. / Ana Hortides Curadora.

 

A exposição ‘Anna Bella Geiger – Entre o Relevo e o Recorte’ é uma imersão na fase inicial da carreira da artista, destacando sua contribuição singular para a gravura e a videoarte no Brasil.

O uso do recorte na chapa de metal, uma técnica inovadora e subversiva para a época, evidencia a capacidade de Geiger de transcender os limites do suporte tradicional.

Sua obra revela uma exploração contínua de formas e relevos, desafiando a bidimensionalidade da gravura e expandindo os horizontes da arte gráfica. Este enfoque técnico não só marca um ponto crucial na trajetória de Anna Bella Geiger, mas também enriquece o entendimento sobre as possibilidades expressivas da gravura, posicionando-a como uma pioneira e uma referência indispensável na história da arte brasileira.

A curadoria de Ana Hortides tece um panorama revelador dos primórdios da carreira de Anna Bella Geiger, destacando sua audácia técnica e conceitual. A artista transcende as convenções da gravura, manipulando a chapa de metal com precisão e sensibilidade, criando formas abstratas que pulsam com energia e ineditismo.

Serviço:
Exposição: Anna Bella Geiger – Entre o relevo e o recorte
Artista: Anna Bella Geiger
Curadoria: Ana Hortides
Até 8 de setembro de 2024
Galeria do Sesc Copacabana – 1° andar
Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro
Classificação indicativa: livre.
Palestra com lançamento do catálogo: 3 de setembro, às 16h.
Funcionamento: terça-feira a domingo, das 10h às 19h
Entrada franca

Contatos:
Sesc Copacabana
(21) 2548-1088
https://www.sescrio.org.br

Anna Bella Geiger
https://www.instagram.com/annabellageiger/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Anna_Bella_Geiger

 


Referências — Anna Bella Geiger; Entre o Relevo e o Recorte; exposição Anna Bella Geiger; Sesc Copacabana; Ana Hortides; Agência Dellas; Atelier Produtora; Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024; gravura; abstração; técnica de recorte; Casa de las Americas; Museu de Arte Moderna (MAM); arte gráfica; anos 60; Fayga Ostrower; influências artísticas; videoarte brasileira; visita guiada; palestra Anna Bella Geiger; catálogo da exposição; produção artística; inovação na gravura; arte brasileira.

 

 

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