O Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo, tornou-se palco de uma experiência inovadora que funde arte e tecnologia em uma exposição inédita em terras brasileiras
Com o patrocínio da 3M através da Lei de Incentivo à Cultura e parceria com a Urbia e apoio da Africa Creative, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) traz ao público a exposição “Realidades e Simulacros”.
Por meio de uma plataforma criada pelo estúdio Museu.io, dez artistas apresentam obras em realidade aumentada que exploram o intrigante diálogo entre elementos virtuais e físicos, convidando os visitantes a enxergar a realidade de forma diferente e interagir com diferentes dimensões.
Uma jornada entre o virtual e o físico
A exposição “Realidades e Simulacros” promete uma jornada única aos visitantes, permitindo-lhes explorar a interseção entre o mundo digital e o mundo real. Sob a curadoria de Cauê Alves e Marcus Bastos, a mostra reúne obras de artistas renomados como Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Paola Barreto e Regina Silveira. Cada artista recebeu o convite da curadoria para criar experiências digitais, obras virtuais em realidade aumentada que se integram em um jogo fascinante de multiplicidades.
Um encontro entre o factual e o fabulatório
A exposição busca estabelecer um diálogo tenso e cativante entre camadas de informações e realidades, um jogo que se desdobra entre o que é factual e o que é inventado, entre o que é visto e o que é imaginado. As obras criadas especialmente para a mostra transportam o público para diferentes realidades e simulacros, permitindo uma imersão ímpar na intersecção entre o concreto e o inventado.
Uma exposição ao ar livre
Com uma proposta inovadora, “Realidades e Simulacros” desafia as fronteiras físicas do museu ao espalhar as obras em pontos distintos do Parque Ibirapuera. A visitação pode ser realizada de diversas maneiras, seja caminhando a pé, de bicicleta ou optando pelo Ibira Tour, um passeio conduzido por guias da Urbia em carrinhos elétricos. Sinalizações físicas também foram estrategicamente instaladas próximas às obras para otimizar o percurso do público.
Acessibilidade através da tecnologia
A exposição não requer o acesso a um site ou aplicativo específico. A plataforma desenvolvida para a mostra, integrada ao site do MAM, permite aos visitantes utilizar seus próprios celulares para interagir com as obras em realidade aumentada. Através do link mam.org.br/realidades, os visitantes podem explorar as instalações artísticas com facilidade.
Um projeto expográfico digital
O projeto expográfico digital da exposição foi elaborado inspirado no conceito do cubo branco e conta com elementos que auxiliam na jornada de visitação. A plataforma inclui a lente, uma espécie de câmera que permite ao visitante visualizar e fotografar as obras; o mapa, que orienta sobre a localização das obras no Parque; e a ficha catalográfica, que concentra informações sobre os artistas e referências utilizadas no processo de pesquisa e criação das obras.
Obra digital, experiência presencial
No entorno do MAM, no Jardim de Esculturas, um disco voador paira sobre os visitantes. Trata-se de Rasante (2023), obra de Regina Silveira. A artista dialoga com o imaginário da ficção científica, muito presente em filmes e histórias em quadrinhos, e cria um disco voador que se coloca em relação à arquitetura de Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera.
“A sobreposição entre a realidade e a ficção ecoa a combinação entre o radioteatro e a notícia jornalística. Em 1938, uma transmissão de rádio do diretor de cinema norte-americano Orson Welles causou pânico ao dramatizar A Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells. Entretanto, no século XXI o trabalho de Regina Silveira tende a gerar mais fascínio do que medo”, comentam os curadores.
Sombras pouco nítidas sugerem um percurso por uma floresta de sons plantada no entorno da Praça da Paz. Em RevoAR :: a Vida é uma Utopia (2023), Dudu Tsuda convida o visitante a utilizar fones de ouvido para adentrar uma paisagem sonora que mistura sons da Mata Atlântica originalmente existente na região do Ibirapuera com sons de animais da região, de espíritos da floresta e de entidades fantásticas criadas a partir das cosmovisões dos povos originários brasileiros.
Alinhadas entre o MAM São Paulo, a Oca e o Pavilhão da Bienal de São Paulo, uma escultura digital do Coletivo Coletores reúne corpos que representam três povos: latinos, africanos e resistentes de outras partes do globo. Monumento à Resistência dos Povos (2023) apresenta figuras brancas como o mármore em posição de defesa e aborda a ideia de contra monumentos ao problematizar questões sobre a cidade, a memória e a violência cotidiana sofrida pela população.
Em Rádio Detín (2023), Paola Barreto leva ao entorno da Oca imagens de um manto branco que carrega sons gravados pela artista em uma viagem ao Benim. A obra é um convite para interagir com as árvores do Ibirapuera pelas lentes de uma experiência visual e sonora que oscila entre o documental e o poético. O percurso permite refletir sobre um espectro amplo de sentidos da ancestralidade. A natureza e as culturas que antecederam o colonialismo são entendidas pela artista como vetores que permitem pensar um tempo que está além da duração da vida humana.
Flutuando no Parque e refletindo seu entorno, entre o MAM e o pavilhão da Bienal de São Paulo, a enorme Bolha (2023), de Katia Maciel, apresenta um aspecto lúdico. Em geral, as bolhas duram pouco. Elas estouram quando a elasticidade que surge da junção das moléculas de detergente e água se rompe com a evaporação. Mas na obra A Bolha, esse momento é alargado, o instante em que a bolha estoura parece nunca chegar.
Para os curadores, “no sentido metafórico, estourar a bolha é também alargar nossos horizontes, é nos relacionarmos com realidades diversas. A artista nos faz pensar que talvez a bolha em que vivemos seja mais resistente do que imaginamos, já que o dentro e o fora da bolha, o simulacro e a realidade, permanecem”.
Lucas Bambozzi explora processos de reconhecimento de padrões por meio de Incerteza artificial (2023), obra realizada a partir de inteligência artificial que escaneia a região entre a Ponte Metálica, a Praça da Paz e seu entorno no Ibirapuera, nomeando o que encontra. Mas, para os algoritmos, as coisas nem sempre parecem ser o que são. Neste processo, os equívocos geram instabilidades resultantes dos limites da capacidade que as máquinas têm de identificar seres ou coisas.
Em Brejo das delícias (2023), Giselle Beiguelman faz uma incursão na história do Parque Ibirapuera, a partir de uma pesquisa das espécies nativas, anteriores à sua urbanização. Com base em estudos botânicos da flora paulistana, foram identificadas cerca de 50 espécies que habitavam sua área originalmente alagadiça.
Inspiradas em ilustrações botânicas, as criaturas aqui apresentadas foram feitas com inteligência artificial, fundindo as espécies originárias em novos seres vegetais, que ganham vida por meio de recursos de realidade aumentada. Dessa forma, abordam também a diversidade das imagens técnicas que povoam nossas noções de natureza e paisagem.
Logo em frente ao Planetário do Ibirapuera, Eder Santos posiciona a pirâmide nomeada Ouragualamalma (2023). A pirâmide é uma ligação entre o céu e a terra, uma arquitetura que conecta ambos, é uma imagem ancestral que se refere tanto a uma realidade anterior à colonização, quanto a uma realidade decolonial.
Fernando Velázquez leva ao Lago do Ibirapuera uma criatura feita de elementos orgânicos, vegetais e minerais. Com Górgona 01 (2023), o artista reflete sobre um modo de viver em um planeta reconfigurado por suas catástrofes. A aparição da criatura no Lago pode surpreender tanto pelo caráter quimérico quanto pelo aspecto de porvir, refletindo sobre os caminhos por onde o antropoceno pode levar a vida.
Em outro ponto do Lago, próximo ao Portão 09 do Ibirapuera, Daniel Lima apresenta uma réplica da embarcação usada por Pedro Álvares Cabral na invasão da América em 1500.
Reconstruída pelo governo brasileiro para homenagear os 500 anos de descobrimento do Brasil, por erros no projeto e problemas técnicos, ela naufragou e não participou do evento oficial em Porto Seguro, no ano 2000. Com seu Monumento à Colonização (2023), o artista propõe, não sem ironia, um “monumento inverso” que aponta para o modo como esse tipo de celebração revela nossa mentalidade colonizada e incapaz de projetar um futuro emancipado para o país.
Uma trajetória além das paredes do museu
“Realidades e Simulacros” é mais uma das iniciativas do Museu de Arte Moderna de São Paulo para expandir sua atuação e impactar públicos diversos por meio das linguagens contemporâneas e da tecnologia digital. A exposição integra a programação comemorativa dos 75 anos do MAM e 30 anos do Jardim de Esculturas, enriquecendo a trajetória da instituição no campo da arte e cultura.
Envolvente e provocativa, a exposição proporciona uma experiência única, aproximando a arte do público e evidenciando o potencial da tecnologia em expandir os limites do conhecimento e da expressão artística. Não deixe de conferir “Realidades e Simulacros” no Parque Ibirapuera e se permita desbravar as fronteiras entre o real e o virtual, entre o tangível e o imaginado.
Serviço:
Realidades e Simulacros
Mostra coletiva com:
Coletivo Coletores – @coletivocoletores / @tonibaptistebrasil / @flavio_camargo_seres
Daniel Lima – #DanielLima
Dudu Tsuda – @dudutsuda
Eder Santos – #EderSantos
Fernando Velazquez – @f___velazquez_
Giselle Beiguelman – @gbeiguelman
Katia Maciel – @katiamacielt
Lucas Bambozzi – @lucas_bambozzi
Regina Silveira – #ReginaSilveira
Paola Barreto – #PaolaBarreto
Curadoria: Cauê Alves / @alves_caue e Marcus Bastos / @marcusbastos
Período expositivo: 23 de julho a 17 de dezembro de 2023
Local: entorno do Jardim de Esculturas, Praça da Paz e região dos Lagos do Ibirapuera
Endereço: Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº – Entrada pelos portões 1, 3, 9 e 10
Entrada gratuita
Contato:
MAM – museu de arte moderna de são paulo
(11) 5085-1300
https://mam.org.br/
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