Arquiteta Karla Patrícia, sócia do escritório Norden Arquitetura, explica como momentos distintos e configurações familiares impactam na decisão de escolha de um imóvel, além de orientar no modo de adaptar espaços
Uma pesquisa realizada em 2020, encomendada por uma grande transportadora, sugere que o brasileiro, em média, muda de residência, seja ela própria ou alugada, seis vezes ao longo da vida.
O levantamento ouviu mais de 500 pessoas em todas as regiões do Brasil e o dado que ele traz demonstra que a moradia, como qualquer outra necessidade humana, também segue uma linha delimitada pelas fases de vida de uma pessoa ou de uma família.
Da agitada e, ao mesmo tempo, despojada vida de solteiro e estudante, depois vem um avanço na vida adulto com andamento da carreira profissional, o casamento, a vinda dos filhos que crescem, até uma fase mais madura, os netos, que podem até não morar com os avós, mas sempre terão lugar especial na casa.
Obviamente, nem todas as famílias seguirão, e nem precisam seguir esse roteiro, mas numa ocasião ou outra elas passarão por esses momentos, e onde e como se está morando faz muita diferença.
A arquiteta e urbanista Karla Patrícia, sócia do escritório Norden Arquitetura, com atuação em todo o País, explica que a busca por uma moradia deve considerar principalmente a disponibilidade financeira e as necessidades atuais da pessoa ou da família.
Porém, ela esclarece que, quando essa procura é por um imóvel próprio que requerer um investimento bem maior, se a pessoa ou família já tem intenções e sonhos a médio (5 anos) e a longo prazo (10 anos), é interessante pensar num espaço que possa ser adaptado até que as condições financeiras permitam um upgrade do imóvel.
“No caso de uma pessoa solteira, se ela pretende se casar e ter filhos, o ideal é buscar um apartamento ou casa de dois quartos, pois esse imóvel irá servir por mais tempo. Esse segundo quarto pode servir como home-office, closet ou até mesmo quarto de visitas, podendo no futuro se tornar um quarto de bebê e crianças pequenas”, sugere a arquiteta.
Muitas pessoas, logo no início da carreira profissional, já pensam na compra do primeiro imóvel, seja para moradia ou como um bom investimento financeiro. Karla Patrícia avalia que essa importante decisão de compra precisa considerar as projeções para o futuro.
“É frequente a situação em que muitos jovens se mudam para estudar, mas tem o objetivo de retornar à cidade natal. A definição desse primeiro imóvel também pode incorporar a intenção de se fazer um investimento e o uso temporário para depois ser alugado e servir de renda passiva”, pontua.
Para Karla Patrícia, a opção de alguém por um apartamento tipo estúdio ou um dois quartos irá depender diretamente dos planos e objetivos de cada um, além do valor disponível para investimento.
Conforme a arquiteta e urbanista, a quantidade de recursos que uma família ou pessoa tem disponível para investir, irá impactar mais na localização do que no espaço.
“Muitos têm carro e não se importam de se deslocar grandes distâncias, em contrapartida, morar em uma habitação maior e com mais itens de lazer, talvez em lugar mais afastado. Já outras pessoas preferem prescindir do veículo próprio, ter um imóvel bem localizado mesmo sendo menor, isso vai depender sempre do poder aquisitivo”.
Casamento e filhos – Quando vem o momento do casamento e os filhos, a necessidade de espaço parece se sobressair à questão da localização. Porém, Karla Patrícia mais uma vez lembra que essa decisão de investir num imóvel ou mesmo a decisão de alugar, para quem ainda não tem o próprio, irá depender da situação atual dessa família que se inicia e seus projetos de vida.
“Esse jovem casal pode decidir não ter filhos, ou ter apenas um ou adiar esse projeto para investir na carreira. Sendo assim, a necessidade de espaço não muda tanto. Para quem lá atrás já fez um investimento em um dois quartos, por exemplo, precisará fazer só uma adaptação desse espaço bom que ele já tem. O home-office ou quarto de hóspedes pode facilmente virar o quarto do bebê”, sugere a arquiteta.
Mas se o projeto “filhos” estiver no radar do casal, a necessidade de um imóvel maior virá e nessa fase da vida, segundo explica Karla, pode haver também a necessidade de conciliar localização, mais espaço e mais comodidades como áreas de lazer mais amplas, um condomínio com academia, salão de festas, por exemplo.
“Com filhos crescendo, o casal percebe que a rotina, em especial a logística diária, muda muito. Portanto, escolher um imóvel maior não será a única questão. Uma localização estratégica que facilite o acesso às compras, ao trabalho e à escola fará toda a diferença”, diz.
Melhor idade – Se os filhos crescem, obviamente, eles um dia saem de casa. E nesse momento da vida, o ideal é desfazer do espaço a mais que se tem agora? Ou mudá-lo para outra finalidade? Para Karla Patrícia, essa decisão irá mais uma vez depender da dinâmica e do formato da família.
“Geralmente, nessa fase, muitas pessoas buscam manter o espaço como estava até por conta dos netos, mas hoje com a diminuição das famílias e o aumento do número de casais que estão optando em não ter filhos, ter uma casa grande só para os netos pode não fazer sentido.”
“Nesse ponto, a meu ver, o mais inteligente é fazer um downgrade e se mudar para um espaço mais fácil de cuidar, com localização que seja agradável e próxima a parentes e comodidades, como farmácias, padarias e hospitais, e até mesmo a locais de lazer como parques e praças”, afirma arquiteta e urbanista.
Karla lembra, inclusive, que já há empreendimentos com espaços na área comum voltados aos idosos e até mesmo enfermeiros a disposição para qualquer acidente ou atendimento mais rápido, dando-lhes dignidade de serem independentes, mas com uma infraestrutura adequada para terem qualidade de vida.
Todas as famílias – Tanto quanto as fases da vida, Karla explica que as necessidades de moradia seguem também o tamanho das famílias e suas configurações. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelam que o número de arranjos familiares numa configuração tida como tradicional, formado por pai, mãe e filho (s), está diminuindo.
Conforme o levantamento, em 2005, essa configuração de família estava presente em 50,1% dos lares brasileiros, em 2015 o percentual caiu para 42,3%.
Segundo Karla Patrícia, famílias com arranjos diversos do que se convencionou chamar de família tradicional, tem, sim, suas necessidades de moradia que podem ser diferenciadas ou como qualquer outra.
“O que manda na escolha do espaço é o tamanho da família e não a escolha de vida de cada um. Temos também casais que adotam os pets como filhos, neste caso, o que irá interferir na decisão serão os itens de lazer e espaço como pet care, pet place, tanque com água quente no apartamento para banhos e a preferência por condomínios que aceitam animais. Os casais homoafetivos também podem ter as mesmas necessidades de moradia se optarem ter ou não filhos. Portanto, tudo dependerá do tamanho e das escolhas dessas famílias”, explica.
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