Tidos como antagonistas do urbanismo humanizado, os centros comerciais repensam seus modelos físicos e assumem função de hubs sociais integrados com o entorno

Novo papel dos centros comerciais

Após quase dois anos de restrições impostas pela pandemia, a volta à vida presencial e a reabertura plena de grandes centros comerciais é um marco almejado pelo público e, principalmente, para o comércio, fragilizado neste período.

Nesse momento de retomada, os shopping centers precisam se readequar, após perder boa parte de seu público para o e-commerce e ter grande evasão de lojas físicas.

A necessidade da mudança nos shoppings vem de antes da pandemia. Considerados antagonistas do urbanismo, grande parte dos empreendimentos do tipo no país se resume a edificações isoladas do entorno, completamente focadas no consumo.

“Muitos shoppings brasileiros foram desenhados com base nos modelos internacionais, como os dos EUA, mas o brasileiro tem um perfil de consumo completamente diferente”, afirma o arquiteto Fábio Auricchio, sócio-diretor do escritório ACIA Arquitetos, com ampla experiência em projetos de shoppings.

Novo papel dos centros comerciais

Para Fábio, esses centros comerciais precisam ser mais amigos das cidades, colaborando com o comércio de rua ao assumir um formato mais aberto e conectado com o entorno.

“Na nossa visão, o shopping tem outro papel: o de hub social, ponto de encontro. Ele deve oferecer serviços de lazer e entretenimento que a iniciativa pública, por si só, não consegue promover”, conta.

Esses empreendimentos devem criar novas centralidades nas cidades, impactando o entorno, especialmente no desenvolvimento imobiliário, funcionando cada vez mais como complexos de uso misto, ofertando espaços corporativos, hoteleiros, residenciais e até mesmo de saúde.

Desta forma, o consumo nas lojas passa a ser consequência do passeio dos usuários no espaço do shopping. “O Shopping tinha esse objetivo de resolver a vida das pessoas. Hoje precisa resolver com qualidade, levando em conta a experiência além da funcionalidade. É necessário ter atração sustentável, sem interesse não há fluxo e sem fluxo não há loja”, explica Fábio.

Espaços mais abertos, com boa iluminação natural e o uso da biofilia – com praças arborizadas – são as principais diretrizes do projeto arquitetônico do shopping do futuro.

Nessa visão, a ACIA destaca dois modelos que devem liderar a experiência do setor nos próximos anos: no interior de São Paulo, o escritório está desenvolvendo alguns Open Malls – estruturas lineares, com praças abertas, amplas áreas verdes, oferta de lojas, restaurantes e lazer para crianças e pets. Para grandes centros como São Paulo, a proposta é a criação de centros comerciais com espaços de uso misto.

Um exemplo em desenvolvimento desse último modelo é o Complexo Alto das Nações, da WTorre e do Carrefour Properties, na Chácara Santo Antônio, Zona Sul de São Paulo.

Com VGV de R$ 3 bilhões, o empreendimento vai revitalizar a região, isolada entre a Marginal Pinheiros e os prédios empresariais do Morumbi, e contará com uma praça pública de 31 mil m² (a maior da América Latina), além de três torres (corporativa, residencial e de uso misto), shopping, bares, restaurantes, teatro, uma mega loja Carrefour, além de outros serviços agregados.

Para a ACIA, ao projetar o shopping center do futuro é necessário pensar em master plan, gerando sinergia entre o empreendimento e a cidade e criando espaços mais ligados à ideia do “estar”.

“A intenção do urbanismo contemporâneo é voltar a ter cidades onde as pessoas se conheçam e interajam em pequena escala, circulando e retomando posse do espaço urbano”, afirma Fábio.

“Outro benefício dessa abordagem é a segurança. O horário de funcionamento desses centros acaba mudando, incentivando a movimentação de pessoas em todos os momentos do dia”.

Contato:
ACIA Arquitetos
https://arqbrasil.com.br/22267/acia-arquitetos/
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