Com curadoria de Guilherme Wisnik, exposição “Conversas na Praça” recupera o legado de um dos grandes nomes da arquitetura e do urbanismo no país e convida o público à reflexão sobre cidades mais humanas, justas e sustentáveis, de 20 de setembro a 14 de dezembro de 2019

Urbanismo de Jorge Wilheim

Quem vive em São Paulo ou já visitou a cidade, certamente conhece o Vale do Anhangabaú, o Pátio do Colégio ou o centro de eventos Anhembi. Além de cartões-postais, que representam a grandeza e a importância histórica da metrólope, esses lugares tem em comum um nome: Jorge Wilheim (1928 – 2014), arquiteto e urbanista responsável pela reurbanização (Anhangabaú e Pátio do Colégio) e construção (Anhembi) destes símbolos paulistanos.

Em uma realização do Sesc São Paulo, que busca colaborar na construção de sociedades cujos cidadãos sejam cônscios da importância de seu papel no tecido social e, assim, participantes atentos ao meio em que vivem, a partir do dia 19 setembro, na unidade Consolação, o público poderá se aprofundar na vida e obra de Wilheim, desde sua saída precoce da Itália, por conta da Segunda Guerra, até a carreira como arquiteto, urbanista e gestor público, onde desenvolveu e aplicou importantes modelos de planejamento e urbanização em mais de 20 cidades brasileiras.

A expografia, assinada por Pedro Mendes da Rocha, transformará o Espaço de Convivência da unidade numa praça, onde as pessoas poderão interagir com o conteúdo exposto, além de dialogarem sobre a importância de espaços públicos que acolham os habitantes das pequenas e grandes cidades. Nesse contexto, Conversas na Praça nasce de um último desejo/projeto de Jorge Wilheim: um banco, localizado em alguma praça da cidade de São Paulo, onde ele pudesse sentar com seus livros, seus desenhos, seus pensamentos e com os jovens, para conversarem horas a fio sobre suas vidas e locais que habitam.

O material expositivo, composto por desenhos técnicos, croquis, fotografias, vídeos e arquivos sonoros – pertencente à família Wilheim e reunido pelo curador Guilherme Wisnik – apresenta as principais obras e projetos do urbanista: o Parque Anhembi, a cidade de Angélica no Mato Grosso do Sul, a reconfiguração do Pátio do Colégio, o calçadão da Rua Augusta, os planos diretores das cidades de Curitiba e Joinville e a reurbanização do Vale do Anhangabaú – espaço que nos últimos meses encontra-se no centro do debate paulistano.

Apesar de todo “caráter técnico” que o material evidencia, a exposição busca aproximar o público leigo de conceitos importantes para uma cidade cada vez mais habitável, já que Jorge Wilheim sempre esteve atento e interessado às mudanças da sociedade no tempo em que viveu, buscando fontes de energias alternativas, soluções para as novas formas de trabalho autônomo e flexível, e caminhos para a participação da sociedade na política.

No prefácio do livro “JW – A Obra Pública de Jorge Wilheim”, Manuel Castells, importante sociólogo espanhol e amigo íntimo de Wilheim, afirma que o arquiteto e urbanista se inspirava no modelo de Leonardo da Vinci, onde seu projeto maior, por meio de sua obra, era o de contribuir para o surgimento de um novo Renascimento, onde mentes e artes, música e políticas públicas, converjissem para dar à luz à promessa de uma civilização urbana de caráter humanista, eliminando principalmente a pobreza e a degradação ambiental.

Portanto, não se trata apenas de uma mostra sobre arquitetura e urbanismo, mas sim de um espaço ambientado para a discussão de uma cidade mais humana, mais acolhedora, onde seus cidadãos tenham prazer em ocupar os espaços públicos, transitando com maior facilidade, em contato constante com ambientes mais verdes e seguros, promovendo a qualidade de vida e o bem-estar da população.

Jorge Wilheim nasceu em 1928, na cidade italiana de Trieste e aos 12 anos mudou com a família para o Brasil, onde, na década de 50, formou-se arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Recém-formado, enfrentou o desafio de projetar uma nova cidade para 15 mil pessoas no Mato Grosso do Sul, com a finalidade de desenvolver a região. Assim nasceu sua consciência ecológica e Angélica, cidade modelo em planejamento urbano. Em 1956, participou do concurso para o plano-piloto de Brasília, na mesma licitação que elegeu o projeto de Lucio Costa.

Esteve à frente de projetos que até hoje são considerados cartões-postais paulistanos, como o Parque Anhembi (1967-73) e os projetos de reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981-91) e do Pátio do Colégio, sítio da fundação de São Paulo (1975). Da sua prancheta também saíram muitas referências arquitetônicas e urbanas que conhecemos, tais como: a sede do Clube Hebraica (1961), o TAIB – Teatro de Arte Israelita-Brasileiro (1961), a Galeria Ouro Fino (1961), o Serviço Social das Indústrias (Sesi) – Vila Leopoldina (1974), a sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (1975) e o centro de diagnósticos do Hospital Albert Einstein (1978/85). Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu os prêmios “Tarsila do Amaral” (1956), “Governador do Estado” (1964), “IAB de Urbanismo” (1965 e 67), “IAB para Ensaio” (1965 e 67) e a Ordem do Mérito de Brasília (1985).

No campo político, foi Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (1975-79); duas vezes Secretário de Planejamento da capital paulista (1983-1985 e 2001-2004); Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1987-1990); além de presidente da Emplasa, Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (1991-1994). Suas principais marcas no Governo do Estado de São Paulo foram a criação do PROCON, da EMTU e do “Passe do Trabalhador”, hoje conhecido como Vale Transporte.

Como Secretário de Planejamento do Município de São Paulo, criou o pioneiro Passe do Idoso, o Cadastro Cultural das Referências Urbanas, o Conselho de Política Urbana, o Fundurb, o Plano Diretor Estratégico e os 31 Planos Estratégicos das Sub-Prefeituras de São Paulo.​ Além disso, foi responsável por mais de vinte planos urbanísticos, destacando-se os de Curitiba, Goiânia, Natal, Campinas e São José dos Campos.

Ainda na esfera pública, organizou a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (a primeira do Brasil) e, durante sua gestão, estruturou o órgão que compreendeu a CETESB, a Fundação Florestal, três institutos de pesquisa (Florestal, Botânico e Geológico) e a Polícia Florestal. Também implantou a primeira utilização oficial de álcool combustível no país, programa que seria conhecido mais tarde como PróAlcool. Como Secretário Geral Adjunto da divisão da ONU para a realização da Conferência Global sobre Assentamentos Humanos – Habitat 2, organizou, em 1996, um encontro com quase duzentos países em Istambul.

Articulista frequente dos principais jornais e revistas do país, Wilheim escreveu 10 livros sobre vida urbana, publicados por diferentes editoras de São Paulo, Buenos Aires e Londres. Se destacou também pela participação ativa no mundo das artes plásticas; trabalhando junto com Pietro Maria Bardi, participou da montagem do MASP e foi presidente da Fundação Bienal de São Paulo

Faleceu na cidade de São Paulo em fevereiro de 2014, aos 85 anos, 60 dos quais dedicados à arquitetura, ao urbanismo, à administração pública, à produção intelectual e às artes. Wilheim se destacou como um dos mais importantes e visionários urbanistas brasileiros. Seu extenso conhecimento sobre a dinâmica urbana se transformou em soluções vibrantes e inovadoras em prol da qualidade de vida nas metrópoles em desenvolvimento.

Ficha:
Curadoria: Guilherme Wisnik
Assistente de Curadoria: Betty Mirocznik
Consultora do Legado Jorge Wilheim: Ana Maria Wilheim
Curador Musical: Mauro Wrona
Projeto Expográfico: Pedro Mendes da Rocha
Identidade Visual e Projeto Gráfico: Kiko Farkas
Realização: Sesc São Paulo

Serviço:
Exposição “Conversas na Praça – o urbanismo de Jorge Wilheim”
Com curadoria de Guilherme Wisnik
Abertura: 19/9, quinta-feira, às 20h
Visitação: 20/9 a 14/12, de segunda a sexta, das 10h30 às 21h30; e aos sábados e feriados, das 10h30 às 18h30
Local: Sesc Consolação | Área de Convivência
Ingressos: Grátis
Classificação etária: Livre

Para visitas agendadas de grupos, entrar em contato no endereço: agendamento@consolacao.sescsp.org.br

Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo
Informações: (11) 3234-3000
Transporte Público: Estação Mackenzie do Metrô – Linha 4 – Amarela
https://www.sescsp.org.br/unidades/3_CONSOLACAO

Contato:
Legado Jorge Wilheim
http://jorgewilheim.com.br