Recuperação da paisagem local atrelada às novas relações socioambientais foi a base da proposta desenvolvida por estudantes da USP no Concurso CBCA

Aço na reconstrução de Brumadinho

O rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho/MG, em janeiro de 2019, gerou impactos sociais, ambientais e econômicos de grande relevância para os moradores da região e também para a natureza local.

Premiados no 14o Concurso CBCA para Estudantes de Arquitetura, estudantes de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP) apresentaram projeto de reconstrução de Brumadinho utilizando o aço em um Edifício-Ponte e em um Parque com objetivo de recuperação da paisagem e posterior ressignificação do ambiente – com novas relações afetivas, físicas e ecológicas.

Aço na reconstrução de Brumadinho

O projeto, que foi desenvolvido pelos estudantes Fernando Comparini, André Góes, Guilherme Sarti e Fernando Mauad, com orientação do professor Fábio Mariz Gonçalves, utiliza estrutura da ponte ferroviária sobre o Córrego do Feijão, parcialmente destruído pelo desastre de Brumadinho, para construção do Edifício-Ponte, que conta com um pavimento de Saúde Ambiental, com instalações para analisar condições ambientais das águas, do solo, do ar, da fauna e da flora.

Outro pavimento, da Saúde Humana, configura-se como um centro de recuperação física e mental da população atingida direta e indiretamente pelo desastre. O pavimento da Arte e Cultura tem papel de educar e conscientizar a população sobre os processos ecológicos que afligem diretamente o cotidiano dos moradores locais.

Os estudantes conseguiram a segunda colocação no Concurso CBCA para Estudantes de Arquitetura 2021, realizado anualmente pelo Centro Brasileiro da Construção em Aço.

O Parque é um longo e dinâmico conjunto de passarelas metálicas de diferentes larguras que serpenteiam sobre um sistema de grandes lagoas e tanques de recuperação, os wetlands, usados para tratamento de água e do solo contaminados pela lama de rejeitos.

“Desenvolvemos no projeto o uso de mecanismos ecológicos de filtragem, decantação e remoção de materiais pesados”, explica Fernando Mauad. Também previsto no projeto, o resgate da linha férrea é fundamental para o transporte das pessoas, possibilitando o percurso entre a estação ferroviária de Brumadinho até a estação-praça e um mirante sobre o Edifício-Ponte.

Leveza e durabilidade do aço trazem sensibilidade ao projeto arquitetônico

A reconstrução da paisagem com uso de aço carrega relações simbólicas com o local, já que é uma área conhecida pela extração de minério de ferro. “A materialidade do aço se porta como quase inevitável para atuar numa região tão atrelada culturalmente com suas propriedades.

A leveza e a durabilidade presentes no aço proporcionam à arquitetura a sensibilidade necessária para projetar nesse contexto e, assim, vislumbrar uma transformação sistemática da paisagem”, afirmam os estudantes. No projeto são estimadas 2 mil toneladas de aço.

Em ambos os eixos de intervenção – Edifício-Ponte e Parque – a escolha da estrutura em aço corten potencializa ainda mais tais relações poéticas através da pátina que protege a estrutura da ação corrosiva da atmosfera, ao mesmo tempo em que permite o diálogo com o tempo, já que seu envelhecimento contribui para a melhoria de suas qualidades.

No caso do Edifício-Ponte, a solução estrutural para vencer o vão de 120m foi a adoção de quatro treliças longitudinais paralelas de 12 metros de altura, que se sustentam por pilares existentes e apoios adicionais e se unem por treliças e vigas transversais.

Já nas passarelas do Parque, a solução se baseia em vigas de aço que superam vãos de 40 metros e se apoiam em pilares de concreto. Organizadas em duas seções, a primeira passarela, com largura de 10 metros, se cria como uma ferida do antigo trajeto do Córrego do Feijão, enquanto a segunda, mais estreita, de 3 metros, se desenha como se fosse a costura da primeira, permitindo acessos a regiões lindeiras, às encostas vegetadas do parque.

Para os estudantes, o projeto busca proporcionar a recuperação da paisagem devastada pelo desastre, restaurando o valor humano, as relações sociais e as condições de saúde e bem-estar dessas pessoas em intensa vulnerabilidade, agindo sobre a paisagem devastada, de modo que sua recuperação se dê concomitantemente com o restabelecimento da saúde e da dignidade das comunidades atingidas.

“Dessa forma, mesmo que a execução do projeto não se concretize, seus objetivos seguem como propósito de educação e conscientização acerca dos processos ecológicos que incidem diretamente nas vidas das pessoas”.

Contato:
CBCA – Centro Brasileiro da Construção em Aço
(21) 3445-6332
https://www.cbca-acobrasil.org.br