Até 17/05, no MAM Rio, a maior exposição já dedicada aos artistas reúne peças criadas ao longo das últimas décadas, além de trabalhos inéditos

35 anos de Irmãos Campana

A ocupação dos irmãos Fernando e Humberto Campana no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RIO), inaugurada em 14 de março último, é a maior exposição já feita pela dupla em seus 35 anos de trajetória.

Reunindo projetos inéditos e instalações, concebidos especialmente para o espaço, e uma ampla seleção de peças de design e esculturas desenvolvidas ao longo das últimas décadas, a mostra pretende desafiar o público com uma montagem ousada, imersiva e provocadora. A exposição não apenas celebra a longevidade da dupla como reafirma a importância do MAM para o design.

A instituição abrigou por vários anos o Instituto de Desenho Industrial e reforça esse papel histórico ao estimular a convergência entre as mais diversas formas de expressão visual.

A mostra é realizada em parceria com Natura Ekos, marca que é referência em conservação da sociobiodiversidade amazônica ao estabelecer laços com comunidades extrativistas da região.

“O apoio à exposição é um marco inicial para uma ampla parceria, graças a nossas vocações comuns”, explica Andrea Alvares, vice-presidente de Marca, Inovação, Sustentabilidade e Internacionalização daNatura. “A arte gera forte conexão emocional e a união aos Irmãos Campana materializa o poder transformador que há na conexão do homem com a potência da natureza”, afirma.

Na exposição, aproximadamente 1,8 mil metros quadrados do segundo andar do prédio icônico de Affonso Eduardo Reidy serão tomados pela arte irreverente, desafiadora e criativa dos Campana.

Numa espécie de caos criativo, os dois designers conceberam um ambiente imersivo, formado por um conjunto de grandes instalações e por um amplo conjunto de peças selecionadas para a mostra, nas quais se sobressaem questões marcantes em sua produção como a capacidade de integrar referências artesanais e industriais, uma profunda ousadia formal e material, um intenso flerte com o surrealismo e uma acentuada preocupação ambiental. O planejamento e organização do projeto são da Pinakotheke Cultural, empresa comandada por Max Perlingeiro.

A definição dos diferentes núcleos e confluências é bastante subjetiva e decorre de uma leitura ao mesmo tempo afetiva e conceitual proposta pela curadora italiana Francesca Alfano Miglietti.

A ensaísta realiza uma aproximação entre a obra dos Campana e a ideia de “escultura social”, desenvolvida por Joseph Beuys. “Arte e design, para os irmãos Campana, não é um conceito exclusivamente de museu, mas uma concepção estética revolucionária onde a arte se torna uma prática comum, portanto, capaz de melhorar o relacionamento do homem com o mundo”, conclui ela.

Logo na entrada, o visitante encontrará uma enorme parede de cobogós. São cerca de 1,6 mil tijolos terracota vazados que têm como elemento de repetição uma mão aberta, sinal ao mesmo tempo de alerta e saudação. A estrutura, que remete às paredes de elementos vazados típicos da arquitetura vernacular nordestina, já de início pontua um dos aspectos centrais da obra da dupla: sua capacidade de incorporar e reinventar elementos típicos da cultura brasileira.

Outras intervenções de caráter fortemente cenográfico se espalham pela grande sala. Há o gigantesco painel intitulado Pele, estrutura substancialmente orgânica que combina painéis de madeira, argila expandida e tela de galinheiro e que deriva de um desejo de criar novas formas e estruturas para projetos de paisagismo; ZigZag (um mosaico de estruturas na forma de gotas, em diferentes tamanhos, recobertos de fios de um intenso verde limão, e que recobre o teto do espaço expositivo); e uma sala de audiovisual forrada de tecido dourado com sedutores pufes negros, para exibir a história dessa parceria. Neste espaço, o visitante terá a oportunidade de viver uma experiência sinestésica.

Como cheiros aguçam lembranças e ampliam a experiência sensorial, a fragrância de Natura Ekos Alma complementa a instalação.

Mas o efeito cênico, feito em colaboração com a Spectaculu Escola de Arte e Tecnologia, ONG criada por Gringo Cardia e Marisa Orth no Rio de Janeiro, não se limita à entrada, paredes e telhado. Pontuando e dando ritmo a esse enorme espaço estão mais de uma centena de elevadas torres, recobertas de palha de piaçava.

Funcionando como troncos de uma estranha floresta, em uma clara alusão à questão ambiental, essas estruturas – que foram mostradas, em menor escala, em 2019, na Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, em São Paulo – sugerem caminhos, permitem aproximações do público com os núcleos poéticos que organizam a exposição.

Sem hierarquias ou cronologias, estarão em diálogo na mostra desde as antológicas Cadeira Vermelha (1998) e a Poltrona Favela (2003), até trabalhos mais recentes como a série Hibridismo, a Poltrona Sade e algumas investigações de caráter mais coletivo – como as luminárias intituladas Retratos Iluminados –, desenvolvidas através do Instituto Campana, instituição criada em 2009 pelos irmãos para resgatar técnicas artesanais e promover a inclusão social por meio de programas sociais e educativos.

Experimentação e ousadia são elementos-chave no trabalho dos irmãos. Na maioria das vezes é o material que dita o caminho. O interesse é dar forma, sentido e função, a coisas simples, rejeitadas do cotidiano. Elementos descartados como isopor, plástico bolha ou as palhinhas de cadeiras antigas tornam-se, nas mãos desses designers artistas, elementos nobres. “São como falsos brilhantes”, brinca Humberto, demonstrando assim a importância de não deixar nenhum material ser tragado por sua banalidade.

“Depois de 35 anos, não sei se sou designer ou artista, não me preocupo mais se a peça tem funcionalidade ou não”, acrescenta ele. Sobre o trabalho longevo da dupla, ele completa: “Trabalhamos bem juntos, um instiga, provoca o outro”. O irmão Fernandotambém valoriza essa curiosa combinação, diz que muitas vezes “um pensa e o outro completa”, num processo em que sintonia e diversidade se alternam. “Desde a infância, ele queria ser índio, eu astronauta”, brinca. Uma parceria tão longa não é algo simples, mas Humberto destaca a importância de que ambos, neste longo período, procuraram desenvolver suas expressões individuais, criando trabalhos pessoais, que também estarão presentes na exposição.

Para Fernando, a principal conquista deles foi mostrar que o Brasil não é apenas aquele dos clichês, do samba, futebol e folclore.“Conseguimos levar a excelência do artesanal, o fatto a mano brasileiro à indústria italiana”.

Conhecidos internacionalmente por sua obra no campo do design, com parcerias importantes com marcas de renome como Edra, Alessi e Louis Vuitton, presença constante nos grandes eventos e exposições do design mundial e com trabalhos nas principais coleções e museus do mundo, abriram um espaço que até então parecia fechado aos criadores brasileiros.

A mostra também conta ainda com patrocínio de Carpenters Workshop Gallery, Firma Casa e Friedman Benda e apoio das empresas Divina Terra, Fink e Tokio Marine Seguradora.

Estúdio Campana – Em 1984, os irmãos Fernando (1961) e Humberto (1953) Campana criaram, em São Paulo, o Estudio Campana, que se tornou reconhecido pelo design de mobiliário e por criação de peças intrigantes – como as cadeiras Vermelha e Favela. Posteriormente, o estúdio expandiu seu repertório para as áreas de arquitetura, paisagismo, cenografia e moda, entre outras.

Atualmente, os irmãos Campana figuram na lista dos arquitetos mais icônicos do mundo da Interni (2018). Em 2015 e 2014 a Wallpaper os classificou, respectivamente, entre os 100 mais importantes e 200 maiores profissionais do design. Em 2013, foram listados pela revista Forbes entre as 100 personalidades brasileiras mais influentes.

Em 2012, Fernando e Humberto Campana foram selecionados para o Prêmio Comité Colbert, em Paris; homenageados pela Design Week de Pequim; receberam a Ordem do Mérito Cultural, em Brasília, e foram condecorados com a Ordre des Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura da França, além de eleitos Designers do Ano pela Maison & Objet de Paris. Em 2008, receberam o prêmio Design Miami/ Designer of the Year Award.

As peças Campana fazem parte de coleções permanentes de renomadas instituições culturais como MoMa de Nova York; Centre Georges Pompidou e Musée des Arts Décoratifs, Paris; Vitra Design Museum, Weil am Rhein; Design Museum de Londres,Philadelphia Museum of Art, Pinakothek Der Moderne Munich, Musée des Beaux-Arts de Montréal, Tokyo Museum of Contemporary Art, Fundação Edson Queiroz, Recife, e no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Instituto Campana – Fundado em 2009, a missão do Instituto Campana é preservar o legado dos Irmãos Campana, utilizando o design como ferramenta de transformação através de programas sociais e educativos. A Associação Civil de direito privado sem fins lucrativos realiza esse objetivo por meio de parcerias e acordos de cooperação com instituições estrangeiras e nacionais, empresas, organizações e entidades públicas e privadas.

Um dos principais atributos do trabalho dos Irmãos Campana é a inspiração pelas técnicas artesanais tradicionais de diferentes partes do Brasil e ao redor do mundo. Foi precisamente a proximidade com as diferentes realidades que deram o impulso inicial para a criação de uma organização com três principais áreas de trabalho: o resgate de técnicas artesanais, o desenvolvimento da inclusão social e preservação da obra dos irmãos para futuras gerações.

Serviço:
Exposição Irmãos Campana – 35 Revoluções
Abertura: 14 de março de 2020, às 15h
Exposição: 14 de março a 17 de maio de 2020
Curadoria: Francesca Alfano Miglietti
Planejamento e organização: Pinakotheke Cultural / Max Perlingeiro
Educativo: Instituto Campana
Patrocínio máster: Natura Ekos
Patrocínio: Carpenters Workshop Gallery, Firma Casa e Friedman Benda
Apoio: Divina Terra, Fink e Tokio Marine Seguradora
Local: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro [MAM Rio]
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, CEP 20021-140 Terça a domingo, de 10h às 17h
Ingresso: R$14; estudantes maiores de 12 anos: R$7; maiores de 60 anos, Amigos do MAM e crianças até 12 anos: entrada gratuita
Quartas-feiras: entrada gratuita
Domingos ingresso família, para até 5 pessoas: R$14
(21) 3883-5600
https://www.mam.rio/

Contatos:
Estúdio Campana
(11) 3825-3408
http://campanas.com.br/

Instituto Campana
info@institutocampana.org.br
https://institutocampana.org.br/

 

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