Paul Klee – Equilíbrio Instável foi concebida especialmente para o Brasil. A exposição circulará os CCBBs de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de fevereiro a novembro de 2019, reunindo 120 obras, entre pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos pessoais do artista

CCBB recebe inédita de Paul Klee

Paul Klee, Frau in Tracht, 1940, 254, Woman in Traditional Costume, Mulher com roupa típica, Cola colorida sobre papel sobre cartão, 48 x 31,3 cm, Zentrum Paul Klee, Berna / Paul Klee, ein Antlitz auch des Leibes, 1939, 1119, A Face of the Body, Too, Um rosto também do corpo, Cola colorida e óleo sobre papel sobre cartão, 31 x 23,5 cm, Zentrum Paul Klee, Berna, doação de Livia Klee

Paul Klee (1879-1940), nascido em Berna, Suíça, marcou a história do modernismo nas artes plásticas no início do século XX. O artista ganha, a partir de 13 fevereiro de 2019, uma mostra inédita no Brasil e na América Latina. Mais de cem obras de Klee estarão reunidas pela primeira vez em uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo (13 de fevereiro a 29 de abril), no Rio de Janeiro (15 de maio a 12 de agosto) e em Belo Horizonte (28 de agosto a 18 de novembro).

Intitulada Paul Klee – Equilíbrio Instável, a exposição reúne obras do acervo do Zentrum Paul Klee de Berna, cujo prédio é desenhado pelo renomado arquiteto italiano Renzo Piano. A instituição é responsável por zelar pelo trabalho de Klee e reúne mais de 4 mil obras produzidas pelo artista. Berna foi a cidade onde Paul Klee nasceu, viveu sua infância e para onde retornou em 1933, depois de um período em Munique, na Alemanha.

A vinda dos 120 trabalhos do artista ao Brasil é patrocinada pelo Banco do Brasil e pela BB Seguros. Tem ainda o apoio da Cateno. A organização e produção do projeto é da Expomus, por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. A exposição faz parte de um programa encampado pelo CCBB e que dá acesso ao público brasileiro, de forma gratuita e altamente qualificada, a grandes acervos e coleções de arte nacionais e internacionais.

Esse programa de formação contínua em história da arte fortalece as relações do CCBB com instituições museológicas de todo o mundo e contribui para uma agenda altamente relevante no cenário dos grandes eventos de arte. O aspecto formador da mostra poderá ser experimentado nas propostas que serão desenvolvidas pela ação educativa do CCBB, com conteúdos acessíveis e diversificados para cada faixa etária. “Trata-se de uma oportunidade singular de apresentar ao público brasileiro, com entrada franca, um conjunto das mais criativas e inspiradoras obras de arte do século XX. Essa iniciativa reforça o compromisso do Banco do Brasil com a democratização do acesso à cultura e a formação de público para as artes”, afirma Alexandre Alves, diretor de Marketing do Banco do Brasil.

A BB Seguros reforça a relevância da iniciativa. “Disseminar a cultura oferecendo acesso gratuito da população à arte é o que nos motiva a viabilizar financeiramente projetos de grande valor histórico, como é a exposição de Klee. Esse é um patrocínio que nos enche de orgulho e uma amostra da importância que dispensamos ao fomento das artes e da cultura”, afirma Fernando Barbosa, presidente da BB Seguros.

Independência de estilo – Pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos pessoais de Klee percorrem a trajetória de um artista e pensador da arte que desenvolveu, ao longo de sua vida, um estilo próprio. “Paul Klee é um artista ao qual não podemos atribuir simplesmente um determinado estilo. ‘Eu sou meu estilo’, registrou ele de modo autoconfiante em seu diário, em 1902. A observação não estava errada”, explica Fabienne Eggelhöfer, curadora da mostra. “Paul Klee é uma das personalidades mais importantes da arte do século XX. Embora estivesse em contato com movimentos artísticos como o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, ele sempre permaneceu independente. Sua arte é única e aberta a diversas interpretações. Ele foi um bom exemplo para as gerações de artistas que o sucederam, já que não propunha um estilo único e definitivo”, completa.

Filho de um professor de música alemão e, ele próprio, um grande conhecedor dessa arte, Klee optou pelas artes plásticas ao terminar seus estudos no ensino médio em Berna, e buscou um grande centro de formação. Dirigiu-se, então, a Munique. Sua inscrição na academia, porém, não foi aceita, visto que à época se dava muito valor aos conhecimentos de anatomia humana e sua representação acadêmica. Acabou por estudar na escola particular de desenho de Heinrich Knirr, onde pretendia aprimorar o desenho figurativo, visando à realização de nova prova de ingresso na academia.

Sua visão de arte, no entanto, não lhe permitiu trilhar esse caminho, apesar de ter frequentado posteriormente o curso de Franz von Stuck, o “príncipe dos pintores”. Em 1901, após uma viagem à Itália, no fim de sua formação, concluiu que vivíamos, na virada do século XIX para o XX, um “tempo epigônico”, em que se valorizava em demasia a produção da Antiguidade e do Renascimento e em que a reprodução de modelos clássicos tinha mais valor do que a criação.

Equilíbrio como articulação – Ao longo de sua trajetória, Klee se associou às correntes modernistas. A angústia do homem moderno nos traços fortes e coloridos do expressionismo; a valorização das formas geométricas e do descompromisso com a figuração do cubismo; a importância da composição inspirada pelo construtivismo. O caminho rumo à abstração e ao inconsciente do surrealismo ganham, nos trabalhos de Klee, uma assinatura muito pessoal.

Klee buscava expressar em suas obras a primazia do processo. Isso significava, por exemplo, um apreço pelo movimento como precondição básica para a configuração. As formas elementares do triângulo, do círculo e do quadrado surgem, em seus trabalhos, articuladas não só à ideia de movimento, mas também à de um equilíbrio necessariamente tenso. Também acreditava que o artista deveria buscar inspiração na natureza, mas de forma econômica em seus traços e composições: “Queremos dizer mais do que a natureza, mas cometemos o erro inadmissível de dizer com mais meios do que ela, em vez de menos”, escreveu ele em 1908.

Em 1924, numa palestra em Jena, na Alemanha, afirmou, como já o fizera antes, que no seu caso o processo artístico começava sem qualquer intenção de representação. “Nos primeiros estágios do trabalho, ele dizia seguir apenas critérios puramente pictóricos ao juntar linha e cor numa forma que gradualmente se configurava”, explica Fabienne Eggelhöfer. Entretanto, completa a curadora, “nada o impedia de aceitar uma associação que lentamente se impusesse e de integrá-la à obra”.

Pensador da arte – Klee combinou a sua prática de contestar a pintura tradicional à reflexão sobre a arte pictórica nos anos em que foi professor na Bauhaus, escola vanguardista que tinha por objetivo eliminar a separação entre as disciplinas artísticas. Lá, foi colega do pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944), entre outros.

As características dos trabalhos de Paul Klee incomodaram o ascendente regime nazista alemão, e ele foi considerado autor de “obras degeneradas”. Os ataques nazistas o obrigaram a refugiar-se, com a esposa Lily Stumpf, na Suíça, depois de ser sumariamente dispensado da Academia de Artes de Düsseldorf, onde, entre 1931 e 1933, desenvolveu trabalhos com um novo tipo de pontilhismo. Já em Berna, em 1937, encontrou-se, provavelmente pela última vez, com Pablo Picasso (1881-1973), cuja obra cubista inspirou Klee a desenvolver, de forma crítica, sua própria produção. O período que viveu em Berna até a sua morte, em 1940, foi um dos mais importantes no desenvolvimento de suas obras.

Um dos atrativos da exposição brasileira, que tem entrada livre para todas as idades, é o conjunto de cinco dos fantoches produzidos por Klee para seu filho Felix, entre 1915 e 1925. O artista criava as cabeças e as roupas a partir de restos de tecidos velhos e materiais simples que ele encontrava em casa, como carretéis de linha, tomadas ou ossos de boi fervidos. Segundo a curadora da exposição, “Klee nunca manipulava os bonecos, deixando a brincadeira inteiramente para o seu filho, que entretinha a família e os amigos com seu talento cômico”.

O futuro visto de costas – O visitante da exposição no Brasil também poderá apreciar um núcleo que reúne um facsímile de Angelus Novus e mais 15 desenhos dedicados a essa temática, retratada em texto pelo filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) e que se tornou referência para pensar a trajetória humana. Paul Klee – Equilibro Instável abrange todo o período da vida artística de Klee, apresentando obras raras e pouco conhecidas – uma produção que se inicia ainda em sua juventude, no final do século XIX. É, portanto, uma exposição fundamental sobre o artista para aqueles que apreciam a sua obra e a história da arte.

Serviço:
Paul Klee – Equilíbrio Instável | Centro Cultural Banco do Brasil
• Curadoria: Fabienne Eggelhöfer
• Realização: Expomus
• Patrocínio: Banco do Brasil e BB Seguros
• CCBB São Paulo: 13/02/2019 a 29/04/2019
• CCBB Rio de Janeiro: 15/05/2019 a 12/08/2019
• CCBB Belo Horizonte: 28/08/2019 a 18/11/2019
• Entrada gratuita.

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro, São Paulo, SP
Acesso ao calçadão pela estação São Bento do Metrô
(11) 3113-3651/3652 | Todos os dias, das 9h às 21h, exceto às terças
Acesso e facilidades para pessoas com deficiência | Ar-condicionado | Cafeteria e restaurante | Loja
Estacionamento conveniado: Estapar – Rua Santo Amaro, 272
Valor: R$ 15 pelo período de 5 horas (é necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB)
Traslado gratuito até o CCBB. No trajeto de volta, a van tem parada na estação República do Metrô.
http://culturabancodobrasil.com.br/receptivo/