Uma história extraordinária de arquitetura e política, que ilumina os caminhos de alguns dos principais projetos modernos em nosso país

Trianon do MAM ao MASP

Ao concentrar sua investigação na história de um único lote na cidade de São Paulo, Daniele Pisani, professor de história e teoria da arquitetura contemporânea em Milão, estudioso da arquitetura brasileira moderna e autor, entre vários outros livros, de Paulo Mendes da Rocha: obra completa (2013-14), tocou numa espécie de nervo sensível da nossa história cultural.

Em O Trianon do MAM ao MASP: arquitetura e política em São Paulo (1946-1968), Pisani ilumina passagens decisivas de uma história que permaneceu soterrada por muitas décadas, na qual se entrecruzam, como num roteiro teatral, não só figuras de alto poder econômico e político, como Ciccillo Matarazzo, Assis Chateaubriand, Nelson Rockefeller, Armando de Arruda Pereira, Jânio Quadros, Adhemar de Barros e Faria Lima, mas também arquitetos da maior importância, como Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e muitos outros.

Com uma atenção rigorosa aos documentos, o recurso constante a fontes primárias e um senso crítico extremamente apurado, O Trianon do MAM ao MASP subverte interpretações consagradas e se revela uma referência obrigatória para compreender as relações entre arquitetura, política e cultura na São Paulo das décadas de 1940 a 60.

Sobre o autor – O historiador da arquitetura Daniele Pisani nasceu em Castel San Giovanni, na Itália, em 1974, e formou-se em Arquitetura na Università Iuav di Venezia, em 2000. Foi professor visitante na FAU-USP e professor da FAU Mackenzie. Atualmente ensina História e Teoria da Arquitetura no Politecnico di Milano, na Itália. É autor de Paulo Mendes da Rocha: obra completa (Milão/Barcelona/Nova York, 2013-14), Uma genealogia da imaginação de Paulo Mendes da Rocha: lições de Veneza (Porto, 2017) e São Paulo: ritratti di città (Bolonha, 2014), entre outros livros.

Texto de orelha – Ao iniciar uma pesquisa sobre a obra do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Daniele Pisani, professor de História e Teoria da Arquitetura Contemporânea na universidade Politecnico di Milano, na Itália, e estudioso da arquitetura brasileira moderna e contemporânea, pretendia num primeiro momento tão somente analisar o projeto que o arquiteto carioca elaborara no início dos anos 1950 para um Museu de Artes Plásticas na avenida Paulista, em São Paulo, que raramente aparece nos livros de arquitetura.

Entretanto, como observa Daniele Pisani, “a história daquele projeto revelou-se tão rica e complexa, e conduziu a direções tão surpreendentes”, que ele se viu compelido a investigar tudo o que dizia respeito à história — ou melhor, às histórias — do terreno que fora objeto do projeto de Reidy. Tratava-se, curiosamente, do mesmo terreno do Trianon sobre o qual se ergueria, na década seguinte, um edifício icônico da arquitetura moderna brasileira e mundial, o MASP (Museu de Arte de São Paulo), projeto de Lina Bo Bardi (1914-1992).

A partir dessa surpreendente constatação de que tanto Reidy como Lina (mas a lista de surpresas não para por aí…) projetaram museus para o mesmo lote urbano, tem início uma investigação que possui algo de romance policial. Entendendo que a tarefa do historiador é, conforme o mote de Adorno citado na epígrafe do livro, “produzir perspectivas nas quais o mundo se desloque, se estranhe, revelando suas fendas e fissuras”, Pisani repassa criticamente a bibliografia existente, vai às fontes, levanta novas pistas, anota os depoimentos dos envolvidos, compara suas narrativas e as confronta com os fatos históricos e também com os registros documentais guardados nos arquivos — muitos deles desconhecidos e que ganham publicidade pela primeira vez neste livro.

Assim, com grande habilidade e um manejo quase teatral do timing de suas descobertas e revelações, o historiador vai gradualmente reconstituindo a trama de articulações pessoais, políticas, econômicas e culturais que situaram, de um lado, Francisco Matarazzo Sobrinho — mecenas que esteve à frente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, da Bienal de Arte e também da Comissão do IV Centenário — e, de outro, não tanto a figura de Assis Chateaubriand, mas sua obra máxima no terreno da cultura, o MASP, aqui personificado pelo casal Lina Bo e Pietro Maria Bardi.

Ressaltando sempre a originalidade da invenção arquitetônica de Lina Bo Bardi e do engenheiro calculista José Carlos de Figueiredo Ferraz, o autor faz questão, entretanto, de não acomodar suas narrativas, mas, ao contrário, de apontar as incongruências e as disparidades que cercam o relato da origem da criação do projeto do MASP. Submetidas ao escrutínio do historiador e às provas documentais, versões longamente aceitas como verídicas caem por terra e se revelam construções da ordem do mito e da fabulação.

Em O Trianon do MAM ao MASP: arquitetura e política em São Paulo (1946-1968), o que vem à tona é uma intrincada rede de influências, disputas, talentos e rivalidades, que permaneceu oculta não só do grande público, mas também dos estudiosos da matéria. Uma história extraordinária, que ilumina de forma crítica os percursos, muitas vezes ambíguos e nada lineares, pelos quais se construíram e se afirmaram alguns dos principais projetos modernos em nosso país.

Ficha
O Trianon do MAM ao MASP
Daniele Pisani
Arquitetura e política em São Paulo (1946-1968)
Tradução do italiano de Celina Olga de Souza
280 p. / 16 x 23 cm / 483 g. / ISBN 978-85-7326-737-2
Preço: R$ 62,00 / Comprar – http://editora34.com.br/detalhe.asp?id=1023

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